Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Capitanias

Um dos deputados mais antigos na atual legislatura faz parte da quinta geração da família e já prepara um neto que é vereador e um filho que atualmente é deputado como seus sucessores

A lembrança que tenho é daquele mapa com linhas horizontais que iniciavam no litoral e iam até o interior onde encontravam uma linha vertical que era o Tratado de Tordesilhas. As Capitanias Hereditárias foram criadas pela coroa portuguesa em mil quinhentos e alguma coisa. O objetivo era colonizar e proteger o Brasil. Eram hereditárias porque passavam de pai para filho. O sistema vigorou até 1759. Ao menos no sistema territorial. No sistema político continua funcionando hoje – e muito bem. Estudo de um professor e cientista político mostra que essa herança da colonização portuguesa continua na política onde 60% dos congressistas têm parentes envolvidos. Somos uma república de famílias. Um dos deputados mais antigos na atual legislatura faz parte da quinta geração da família e já prepara um neto que é vereador e um filho que atualmente é deputado como seus sucessores. Se o projeto der certo, a família chegará a sete gerações sendo representada no Congresso. Isso mostra que não há renovação de ideias. Mudam os nomes, mas como se originam das mesmas famílias, carregam os mesmos hábitos, a mesma visão de mundo e utilizam as mesmas práticas que os antecessores. Isso nos torna reféns da visão colonialista das capitanias que apenas mudaram de lugar. Saíram dos latifúndios e foram para a política. 

Coronel
Como herança dessa época e decorrente do poder dos fazendeiros, políticos e militares surgiu na história brasileira a figura do coronel. No início da República o coronel decidia as eleições, seja por meio do voto de cabresto ou fraude eleitoral. Os coronéis mudaram, mas continuam existindo, saíram do meio da população e viraram donos de empresas de comunicação. De acordo com nossa Constituição, a prática é ilegal. Mas quem se importa com isso se são políticos, ricos e donos da informação publicada? Os coronéis da mídia têm a mesma função dos antigos: elogiar os amigos e perseguir os inimigos. Amplificar os assuntos do seu interesse e ignorar os que não interessam. 

Mídia
O levantamento indica 40 deputados federais e senadores sócios de empresas de radiofusão. A lista tem políticos de todas as plumagens. Muitos já foram ministros, outros são líderes de partidos. Governadores e ex-governadores constam na lista. Senadores e ex-presidentes. A lista é democrática e se espalha pela maioria dos Estados. Políticos antigos, alguns estão no quarto mandato. Contam uma história que reflete isso muito bem. Em uma cidade do interior, um repórter foi entrevistar um político e usou uma expressão muito comum na época para dizer que ele estava à vontade para se manifestar: “O microfone é seu”. O político não se fez de rogado e disse no ar para quem quisesse ouvir: “Não só o microfone, meu rapaz, mas toda a rádio”. O Ministério Público está tentando investigar os coronéis eletrônicos com vistas às eleições de 2018. Não será tarefa fácil. Eles sabem como atrasar, interromper ou simplesmente suspender as investigações. Por quanto tempo existe essa ilegalidade? E até agora ninguém tinha notado? Isso explica parcialmente o silêncio das panelas.