Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Arroz nosso de cada dia

Porque o preço do arroz aumentou?

Porque o preço do arroz aumentou? Uma questão simples feita por um dos meus 18 leitores. Alguns dizem que são 20, mas em tempos de fake news, vai saber? Olhando apenas os títulos nas várias bolhas de opinião do ambiente virtual, podemos observar algumas justificativas absurdas: “porque fecharam tudo”, “porque o pobre está comendo mais”, “porque no passado liberaram a importação e quebraram os produtores”, “porque os produtores são gananciosos”, “culpa do capitalismo”, etc... Juntemos a isso as “reporcagens” e sua falta de profundidade e temos o cenário perfeito que obscurece qualquer raciocínio com base nos fatos. Então, vamos aos fatos. 

Mercado
Uma das razões é uma questão de mercado: com a pandemia, alguns países produtores reduziram a exportação para garantir o abastecimento interno. Com a redução da oferta, o preço no mercado mundial subiu. Ao mesmo tempo, a desvalorização do real (ou o aumento do dólar, que é a mesma coisa) tornou o preço do arroz em reais para exportação altamente atraente para os produtores brasileiros. Esse efeito pode ser observado nas estatísticas de exportação com o aumento de 73%, de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado mais óbvio é o aumento do preço interno para se equiparar ao mercado internacional. O que surpreende é o destino das exportações. Os países que mais ampliaram as compras do arroz brasileiro foram a Venezuela, com 32% a mais, e Cuba, com aumento de 110%. Na hora dos negócios, a ideologia cede para os lucros. Por isso, a expressão “vai pra Cuba” para os produtores de arroz é um bom conselho. E não são negócios ocasionais, os dois países são considerados compradores fiéis há mais de cinco anos. 

Gestão 
A produção brasileira vem diminuindo nos últimos 10 anos, a queda foi de aproximadamente 11%, passando de 12,6 milhões de toneladas colhidas em 2009 para 10,5 milhões no ano de 2019. Nesse aspecto, deve entrar em cena um órgão regulador que existe na maioria dos países capitalistas do mundo, não com o objetivo de tabelar os preços como imaginam alguns, mas como um regulador de mercado, comprando e estocando o produto em períodos de alta produção e colocando à venda em períodos de escassez. Dessa forma, evita o prejuízo dos produtores num período de abundância e impede a escalada de preços nos períodos de baixa. Além do fato que estoque de alimentos é uma questão estratégica para a maioria dos países. O Brasil tem essa estrutura chamada de Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), porém, os estoques caíram fortemente nos últimos 10 anos. Passando de 2.500 toneladas para 500 toneladas no cenário atual, ou seja, o mecanismo óbvio de regulação do mercado deixou de existir. 

Equação
Assim, coloque todos os fatos na mesma equação: aumento do preço no mercado internacional, a redução da oferta interna devido ao aumento desenfreado da exportação, a falta de estoques reguladores, o aumento do consumo, e não poderíamos ter um resultado diferente.