Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

A história se repete?

O ano de 1989 ainda está presente e me causa sobressaltos.

A história se repete? 
Confesso que dá medo. O ano de 1989 ainda está presente e me causa sobressaltos. Alguns historiadores o denominam de ‘o ano que mudou o mundo’. Foi naquele ano que ventos democráticos começaram a soprar no mundo todo. Foi o ano da queda do muro de Berlim, evento apontado como o início do fim da União Soviética e do comunismo. Mas outros eventos foram no mesmo sentido. Na China ocorreram manifestações de estudantes em Pequim que somente se encerraram com a morte de 3 mil estudantes na Praça Celestial da Paz. Na Romênia o povo foi às ruas, derrubou o ditador Ceausescu e o fuzilaram no dia de Natal. Na Polônia surgiu o Sindicato Solidariedade. No lado ideológico oposto, o general Strossner foi destituído e fugiu para o Brasil; no Chile, Pinochet é retirado do poder pelo partido democrata-cristão.

O salvador
No Brasil, ocorreram as primeiras eleições diretas depois de um longo período de Ditadura Militar. Os militares tinham sido retirados de forma patética quatro anos, por meio de eleições indiretas onde votavam deputados, senadores e representantes das assembleias legislativas. O eleito foi Tancredo Neves, que morreu antes de assumir, e a presidência cai no colo de Sarney. Passado o período da ‘República de Maranhão’, finalmente em 1989 ocorreram eleições diretas e voltam os sonhos (talvez utópicos) da construção de um país democrático e com mais igualdade. Finalmente iríamos escolher o presidente. As eleições foram disputadas por 22 candidatos. O segundo turno foi disputado por Collor e Lula. Collor venceu com o apoio da grande mídia e com o discurso do não-político, do administrador, um cara jovem e com força e que prometia ter uma única bala de prata para acabar com a inflação. Muito diferente daquele barbudo que pretendia surrupiar a poupança das velhinhas aposentadas. 

Auditório
A bala de prata contra o tigre da inflação foi o sequestro de todo o dinheiro que estava nos bancos. Inclusive o das velhinhas. O termo técnico utilizado foi ‘enxugar a liquidez’. Depois de um longo feriado bancário o país acordou e literalmente todos tinham no máximo 50 mil cruzeiros no saldo bancário. Na ocasião a ministra da Fazenda foi a um programa de auditório e garantiu que o dinheiro confiscado da poupança seria devolvido com correção. Os valores foram devolvidos em longas parcelas e sem a devida correção que foi subtraída numa das conversões do cruzado novo para o cruzeiro. Isso gerou uma briga judicial que se arrasta até hoje e os cálculos sobre o que o governo deve à população confiscada variam de R$ 8 a 16 bilhões. O resto é história de como a inflação voltou, os corruptos roubaram e ninguém foi preso. 

Agora...
Leio que o presidente foi ao mesmo programa de auditório garantir que a reforma da Previdência é boa para o povo. Logo agora que vou descansar uns dias, em vez de relaxar saio com todo esse medo: o que será que esse ano vai nos aprontar?