Olir Schiavenin

Olir Schiavenin

Informativo Rural

Olir Schiavenin atua pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua há mais de vinte anos. É membro da Coordenação da Comissão Interestadual da Uva, preside a Associação Gaúcha dos Produtores de Alho (AGAPA) e é vice-presidente Associação Nacional dos Produtores de Alho (ANAPA). Além disso, coordena a Comissão Agropecuária do Corede-Serra e Centro da Agricultura Familiar de Veranópolis.

O sindicalista também está inserido nos meios acadêmicos. É bacharelando em Filosofia e Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul. Schiavenin escreve para O Florense desde a sua fundação – em 1986. Sua coluna é um espaço informativo e de fundamental importância para a categoria. 

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Oportunidades da crise

O ano de 2009 começou sob o fantasma da crise originada nos Estados Unidos.

O ano de 2009 começou sob o fantasma da crise originada nos Estados Unidos. A economia do País passou pelas turbulências da alta no preço dos alimentos. Posteriormente sofremos o processo de retomada da inflação e agora estamos assistindo aos efeitos da crise financeira mundial. Apesar de a crise ter sido gerada no centro do capitalismo mundial, ela chegou rapidamente ao Brasil e aos demais países do mundo como resultado do processo de globalização. Diante desse cenário, a pergunta que todos fazemos é a seguinte: qual será o impacto dessa crise no meio rural e, mais particularmente, nos negócios da agricultura familiar? A certeza que temos é de que haverá no Brasil, sem dúvida alguma, uma diminuição do crescimento da economia. O país deve fechar este ano com um índice em torno de 5% e as projeções do governo indicam que o ritmo de crescimento em 2009 deve cair para 3%. Isso significa que o País sofrerá um impacto menor em comparação com outros países da América Latina, Àsia e Africa. A nossa posição de superioridade se deve ao fato de que, nos últimos anos, o Brasil cresceu com base no fortalecimento do mercado interno. A política macroeconômica também contribui para blindar a economia brasileira contra as instabilidades dos mercados externos. O Ministério da Fazenda tomou ainda, medidas preventivas como o fortalecimento do sistema financeiro nacional e a abertura de linhas de crédito para oxigenar a produção na indústria e na agricultura. No entanto, consideramos que essas medidas são insuficientes, pois a intervenção do Estado não pode significar a “socialização das perdas” do sistema financeiro com a sociedade. Nesse sentido, consideramos que o governo federal deve negociar contrapartidas de manutenção e ampliação do emprego com todos os setores econômicos beneficiários de medidas de apoio governamental de caráter fiscal e crediticio. A redução da taxa de juros e das metas de superávit primário são medidas extremamente necessárias para estimular a atividade produtiva no País. Não faz sentido manter o patamar atual de juros diante do objetivo de aumentar o consumo interno para aquecer a economia. A política de valorização do salário mínimo, os programas de fortalecimento da agricultura familiar e as linhas de crédito para superar o déficit habitacional no meio rural também devem ser mantidos e ampliados pelo governo federal. A análise da crise financeira sugere que se trata de mais uma crise cíclica do capitalismo. A quebra do sistema imobiliário nos Estados Unidos não foi o motivo principal, mas é fruto de uma política de desmonte do Estado e ausência de regulamentação e fiscalização do sistema financeiro, em especial dos bancos de investimento. O neoliberalismo fracassou. Estamos vivendo, então, um momento de superar definitivamente esse modelo e adotar medidas que regulamentem o mercado financeiro e outros setores da economia. É natural que os agricultores e agricultoras familiares estejam receosos com as especulações e as notícias pessimistas com relação á economia. Mas o fato é que não há indicadores concretos de que a agricultura familiar sofrerá grandes impactos. Portanto, podemos ver essa crise como uma oportunidade para crescer, pois a manutenção do crédito com taxa de juros baixa é uma conquista do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais que não está ameaçada