Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Vozes do Tempo - parte IV

Os fotógrafos Virgílio Tamagnone, João Alexandre Boff, João Carraro, Hugo Rech e Older Nery mantiveram em seus estúdios a arte em preto e branco, perpetuando momentos e belas paisagens, hoje, recordações.

A cidade que prioriza as pessoas em sua vida e obra, individual e coletiva, bem mais do que prédios, casas e automóveis, também preserva sua cultura e valoriza legados. O constante resgate da história, que deve ser também biográfica, tem que ser evidenciada, sendo assim, o Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, por meio do projeto Vozes do Tempo, resgata fatos e fotos, causas e consequências, relatos e depoimentos daqueles que participaram da trajetória de Nova Trento a Flores da Cunha.
Assim, lembramos o fotógrafo Umberto Corinto Zanella, que chegou a Nova Tento em 1911 com a esposa Maria Rosa que, pelos italianos, era chamada de l’americana, por sua beleza e forma de vestir, deixando raízes. Umberto fundou o cinema e um jornal quinzenal chamado O Vigilante, em 1917. Em 1920 o casal voltou para Caxias do Sul e o cinema ficou sob o cuidado dos padres. Mais tarde, frei Eugênio Brugalli repassou o cinema para Orestes Pradella.  Umberto foi homem culto, tocava vários instrumentos e apreciava as artes. Depois, os fotógrafos Virgílio Tamagnone, João Alexandre Boff, João Carraro, Hugo Rech e Older Nery mantiveram em seus estúdios a arte em preto e branco, perpetuando momentos e belas paisagens, hoje, recordações.
 A condessa Luiza nascida em 1871 apaixonou-se por Luiz Napoleão, um bello ragazzo. Na Itália, junto de um amigo, os dois combinaram de se encontrar no Porto de Gênova, assim, vieram fugidos para o Brasil. Chegaram a Nova Trento antes de 1900, juntos tiveram nove filhos. Em 1925 ficaram afastados um do outro por longo período de tempo para que os padres concordassem em realizar o matrimônio, pois ela havia sido casada com um conde quando residia na Itália. A condessa Luiza faleceu em 1941 com 70 anos de idade em Flores da Cunha.
Fausta Itália, atriz ítalo-brasileira e tia de Alessandro Poloni, marido de Maria Della Costa, foi produtora do casal nos palcos do mundo. Os três vieram a Flores da Cunha no inverno de 1953. Aqui, visitaram a casa onde Maria Della Costa viveu com a mãe Hermelinda, além de confraternizarem com autoridades na Cantina União de Vinhos, na época pertencente a Mario Olivo Giordani, vice-prefeito da cidade de 1952 a 1955.
Carmelita Maria ainda lembra a nona que preparava omelete feito com açúcar e pimenta para as refeições, enquanto que na casa de Zelinda, de mão em mão, os 14 irmãos perpassavam a escudela com vinagre e alho picado para dar sabor à polenta, prato único no almoço.
Rozeta morava na beira do chamado Rio Suelo, costa do Rio das Antas. Vinha a pé a Flores da Cunha, onde vendia produtos da terra, especialmente le patate de Santa Vitória. Hospedava-se na casa de dona Virgínia Antoniazzi. Pelos vestidos longos e claros que a cobriam dos pés à cabeça e quantidade de sacolas e adereços que carregava consigo era muito conhecida. Gostava de ir à missa e confessar com frei Eugênio antes de voltar para casa. A agricultora chorava muito quando a chamavam de nona, para ela, uma ofensa moral, já que não era casada.
Como Rozeta, tivemos outras figuras populares, Angelin Tonhon, Marco Bortolai, Agelin Genaro, Tonica, Garibaldin, Angelo Facchio, acolhidos com grande afeto e compreensão pelos moradores. E assim, com os retalhos da nossa história fazemos com que o imaginário nos leve a tempos longínquos, porém, ainda latentes e dormentes nos berços de Nova Trento, hoje, próspera Flores da Cunha.