Vozes do Tempo – Parte 8
Era o ano de 1886 quando Hugo Luciano Ronca aqui chegava, a convite do pároco italiano, Dom Alexandre Pelegrini, que atuava no pequeno povoado de Nova Trento como líder religioso.
Com o intuito de registrar e divulgar fatos sobre a história dos antepassados, por meio do projeto Vozes do Tempo, desenvolvido junto ao Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, evidencio aqui o primeiro italiano a exercer a medicina no antigo povoado. Era o ano de 1886 quando Hugo Luciano Ronca aqui chegava, a convite do pároco italiano, Dom Alexandre Pelegrini, que atuava no pequeno povoado de Nova Trento como líder religioso. Os dois tornaram-se amigos ainda pelas ruelas de Verona, brincando nas proximidades da Arena, terra de Romeu e Julieta, cuja história, o médico adorava contar, dando a ela suas nuances e conotações.
Hugo Luciano Ronca era falante, portador de ombros largos, semblante endurecido, rosto fechado, um vozeirão e gestos amplos e exagerados ao se pronunciar. Era dono de um bom repertório de anedotas, apesar dos amigos terem a dificuldade de perceber quando falava sério ou se tratava de uma reprimenda irreverente, característica marcante do italiano. Luciano nunca mostrara diploma de formação em Medicina, mas comentava-se que era sobrinho de um importante farmacêutico que, supostamente, teria lhe ensinado a arte médica. Mantinha contatos com hospitais provinciais, aumentado seu cabedal de conhecimentos. Ficou em Nova Trento por um ano, onde foi bastante reverenciado pelos moradores, diante dos casos onde foi bem sucedido na área da saúde.
Em 1887 rumou para Caxias e tornou-se sócio do Dr. Alessandrini na venda de produtos farmacológicos e no exercício da Medicina. Em 1890 a dupla teve que enfrentar e combater uma onda de desinteria, onde inúmeros imigrantes, especialmente, poloneses, perderam a vida. Apenas num dia enterraram 25 pessoas que foram atiradas numa vala comum, pois não havia caixão para todos. Luciano Ronca elaborou, então, uma poção mágica, gomosa, à base de bismuto e pó de chifre de veado calcinado, com efeitos antidiarreicos, o que impediu um número maior de vítimas ou a piora do estado de outras.
No ano de 1908, Luciano Ronca, já enriquecido, comprou passagem de volta para a Itália e lá tornou-se um abastado proprietário farmacêutico. Morreu logo após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, na esperança de tempos mais pacíficos. Por duas décadas o médico atuou em Caxias do Sul salvando vidas com seus produtos farmacológicos e atendimentos e também provocando a ira dos familiares revoltados e indignados por casos malsucedidos, que segundo relatos, também foram exacerbados, sendo acusado de falso médico e dono de processos e registros policiais que visavam a cassação de licenciamento e punições que nunca aconteceram.