Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Outono truculento

Embora com o eleitorado desacreditado, prometendo anular e branquear voto, tomado pela descrença e pela desconfiança, este é o ano para a escolha de novos representantes do povo, para uma renovação absoluta dentro da democracia.

Olho para um ponto fixo e vejo o tremular do símbolo nacional em ponto central da cidade. Nesse momento, como profissional da educação há mais de quatro décadas, consigo reportar-me a um passado não tão distante. Nele, sinto-me parte de uma história vivenciada e construída, farejo sonhos com promessa de liberdade, voz e vez do povo. Quase vejo a expectativa dos novos tempos prometidos com o fim da ditadura. Muitos desses sonhos foram debatidos e discutidos nas aulas de Sociologia, Filosofia, História da Educação, onde reuniões de professores e lideranças pensantes eram uma constante. Hoje percebo uma sociedade com mais ação impulsiva do que reflexão. Mais silêncio por omissão ou desconhecimento do que expressividade com opiniões e convicções sobre muito do que, diretamente, lhes diz respeito.
No outono de 2018, reparo em meu entorno e percebo algo bem distante do futuro com o qual sonhamos. Vejo a nebulosidade que assola um país ainda em tempos bicudos, envolto e revolto pela barganha de corruptos, pela crise em diversos setores, pela falta de políticas públicas eficientes e pela quase ausência de lideranças que inspirem confiança e que nos deem esperança para a reversão do atual quadro. Um cenário nacional frustrado por lideranças que não formamos.
Lastimo que justamente um sindicalista tenha deixado a pátria verde e amarela em truculência. Lamento pelo Brasil que, neste momento, tem seus mais de 200 milhões de habitantes divididos, uns tomados pelo amargor e pelo incitar do ódio explícito nas redes sociais; outros agredindo semelhantes e depredando espaços públicos e privados com atos de vandalismo e total ignorância, quando deveríamos estar unidos, buscar ideais, visar ao crescimento, a igualdade social, o bem-estar e a evolução, não apenas material, mas também humanitária.
Nenhum mérito ao maior país da América Latina ver um líder de Estado ser encarcerado diante do mundo, pois o réu deveria ter nos poupado dessa inconveniência, independentemente de siglas partidárias. Embora com o eleitorado desacreditado, prometendo anular e branquear voto, tomado pela descrença e pela desconfiança, este é o ano para a escolha de novos representantes do povo, para uma renovação absoluta dentro da democracia. Vale acreditar que, após tais turbulências políticas, há de surgir a bonança, os resultados do aprendizado por erros cometidos; há de haver melhorias, com suporte e solidez em ações certeiras, onde coxinhas de frango e pão com mortadela sejam saboreados nos mesmos lares brasileiros.
Assim como vivenciamos um outono turbulento, com a prisão de um ex-chefe de Estado, teremos chances de, no próximo outubro, ver surgir novos tempos, na recém-chegada primavera. Talvez possamos perceber indicativos de mudança nos rumos do país, validando pessoas com ideias e promessas que venham ao encontro dos propósitos e das necessidades de um país carente do trabalho coletivo consciente. Dessa forma, sair de um quadro de cores cinzentas e das marcas que ficarão perenes em nossa memória. Quiçá deixar para trás um passado com menos glórias do que gostaríamos, mas que nos dê as lições necessárias para um futuro que espelhe, verdadeiramente, a nossa grandeza.