Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Onde mora uma flor

Como lição de vida, para o ano que se inicia, percebo que convém focar nas escolhas que, na medida do possível e sem aragens, possam melhor se aproximar aos propósitos, assim como sinto o ânimo do jardineiro elegendo o que realiza, fazendo a diferença.

Segunda-feira, 15 de janeiro de 2018. A manhã com promessa de sol remete à atenção ao silêncio dos que dormem e aos que lentamente despertam para mais um dia que soa a rotinas.
Com a promissão de que o trabalho enobrece e acalenta a alma, aqui está o jardineiro plantando e regando vida no imenso canteiro da rua central da cidade. Em alto e bom tom, o senhor franzino e de aspecto envelhecido pela exposição ao sol recita, a quem deseja escutar (embora ali alguns apenas sabem ouvir): 
– Onde mora uma flor, tem um amor; onde tem um amor, mora uma flor!  
Enquanto mexe e remexe terras arenosas, sentindo prazer em seu fazer, repete os versos, que levam ao encantamento. Atitude nobre de quem se preocupa em ornamentar a cidade com flores, um poeta anônimo provavelmente com pouca escolarização, mas de uma sabedoria ímpar. Confesso que sinto vontade de atravessar a rua para dar-lhe um abraço e agradecer pela lição de vida.
Provavelmente não é o valor que recebe como salário que o deixa radiante em realizar tal tarefa, mas o amor pela natureza, o dom de saber lidar com a essência da terra misturada às raízes que fazem eclodir a beleza preponderante da flor, sempre única aos olhos de quem sabe observar.
Como lição de vida, para o ano que se inicia, percebo que convém focar nas escolhas que, na medida do possível e sem aragens, possam melhor se aproximar aos propósitos, assim como sinto o ânimo do jardineiro elegendo o que realiza, fazendo a diferença. Paz interior, bem-estar, trabalho digno, saúde e boa convivência podem ser produtos de escolhas, posturas e pretensões. Fazer o que causa, o que faz bem, nem sempre é sinônimo de cifrão e conta bancária. Que sejamos leves, solidários, respeitosos para conosco, com o outro e com o universo. A vida corre num pé de vento e o que resta são os bons momentos, as boas recordações, relações afetivas e significativas vivências. O resto, apenas entulhos, provavelmente ocupando espaços em prejuízo da mãe natureza.
A exemplo do jardineiro, que tenhamos uma vida livre, leve e solta, lembrando que, onde mora uma flor, tem um amor; onde tem um amor, mora uma flor. O que vale mesmo é trilhar caminhos lado a lado, com o prazer e as belezas do mundo, enquanto os sonhos são maiores que os medos, e o viver, além dos entendimentos.