Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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O fogo e seus poderes

Curiosamente, um gaúcho do Norte do Estado mantém um fogo de chão aceso há mais de 50 anos, sem deixar que se apague durante o dia e à noite.

Curiosamente, um gaúcho do Norte do Estado mantém um fogo de chão aceso há mais de 50 anos, sem deixar que se apague durante o dia e à noite. Danilo, como é chamado, está preocupado com o momento em que tiver que partir, por não saber quem irá continuar com sua ação inusitada. Segundo ele, no local já aconteceram muitas reuniões de amigos e grupos de índios, cerimônias oficiais, festas, casamentos, noivados, mateadas e churrasqueadas.
É fácil compreender a atitude de Danilo, pois o fogo é um dos elementos da natureza, fazendo parceria com terra, água, ar e energia, agentes primordiais da vida. Sendo assim, o gosto por ele está na essência e no arquétipo do ser humano. O elemento fogo foi relacionado por Yung, como sendo o núcleo dinâmico da energia da vida, aquela energia que flui espontaneamente e de maneira inspiradora. Então, por ser de qualidade primeva, está presente na alma humana.
Com particularidades, as suas chamas trazem coloridos irreverentes e convidativos, para que se aprecie instante após instante a sua combustão. O fogo em lareiras, fogões à lenha, churrasqueiras, clama pela presença de pessoas que, ao seu redor, contam causos, divagam, namoram, aquecem e degustam. Dinâmico e perigoso, ele é o próprio movimento sem formas definidas. É prazeroso ficar mirando e apreciando seu tremeluzir, tendo visões, percepções, lembranças e imaginações, aquelas que podem nos levar ao subjetivo e ao descanso mental. Extrovertido e executando uma dança harmônica, ele nos remete à consciência, à introversão, integrando-nos à natureza que somos nós mesmos.
Quando seus espectadores, nos compenetramos e nos curvamos a ele pela força que representa na natureza. Especialmente na região Sul, onde temos o privilegio da necessária presença desse fenômeno da vida que nos deixa intrinsecamente entrelaçados durante os meses de inverno.
O sempitermo também serviu de mensagem, dando sinal à Maria quando Isabel, a mãe de João, quis avisá-la do nascimento do seu filho, por isso, até hoje, a fogueira de São João é tradição entre os cristãos, fazendo parte das grandes comemorações. Com sua cor vermelha, rubro, encarnado, carmim, púrpura, evidencia misticismos e crenças, a exemplo de Fênix que, na mitologia grega, o pássaro entrava em autocombustão e renascia das próprias cinzas. O sol e as estrelas são naturalmente fogo, o dono da luz, o ativo, impulsivo, impetuoso e explosivo, simbolizando a força e energia da vida.
Sua força também combina com emoção e coração, por isso é comparado ao ardor das paixões que calam e deixam marcas. Que sabem ferir e machucar. Vibrar e alegrar. Não é à toa que se faz presente em famosos poemas, assim como este, de Luís de Camões, que versa: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer..."