Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Herança de família

As melhores das heranças são as sementes de união, respeito, afeto e acolhimento.

As melhores das heranças são as sementes de união, respeito, afeto e acolhimento. Esse legado foi deixado pelos avós, Amábile Sandi Rech e Aristides Rech, filhos de italianos vindos de Seren del Grappa, Província de Belluno. Conforme registros no arquivo paroquial de Grappa, entre os anos de 1420 e de 1490, Bortollo de Rechis davam origem a essa grande família, hoje espalhada pelo mundo através dos filhos Fazio, Natale, Antonio e Gio Pietro – a décima sétima geração dos Rech, altos, magros, nariz e orelhas avantajados, olhos azuis e corações plenos de humanismo e senso de responsabilidade e seriedade.
Desde a infância, os nonos promoviam os encontros de família que aconteciam em um salão de madeira ao lado da Igreja e Escola, que hoje designa-se  Escola Municipal Aristides Rech, em homenagem ao meu avô, filho de Giácomo e neto de Fioravante. Ali, a festa iniciava pela manhã e só acabava ao descer do sol, que se escondia atrás do Morro do Agudo. Ainda visualizo a nona Amábile e os irmãos Angelin, Anselmo, Anúncia, Atilio, entre outros, entoando El Massolim dei Fiori, La Bella Violeta, e Mérica Mérica, de Angelo Giusti, com quem a família mantinha forte vínculo de amizade.
Lá, onde ainda impera a simplicidade – e já foi terra dos índios Caingangues –, havia o moinho da família de Angelo Soldera e Romana Schiavenim, rodeada por seus bichanos. O Armazém de Secos e Molhados de Nani Sandi e Rosalina Dalálba, a bodega do Simão, a fornalha do carvoeiro Aristides Rech, criação de ovelhas, bois, gansos, galinhas, plantações e o jardim, cuidado por Amábile Sandi Rech. Esse ponto de comércio onde gaúchos pilchados, portugueses, italianos, carroças, carretas e cavalos circulavam em abundância, atendia moradores do Agudo, da Linha Café e arredores.
A ponte de madeira construída sobre o Rio Pereira – cujas águas moviam as rodagens do moinho Soldera –, na época da Revolução de 1923, era retirada para impedir que maragatos e ximangos se enfrentassem em violentos combates. Usando lenços vermelhos, os adeptos a Joaquim Francisco de Assis Brasil residiam no Agudo e os defensores de Borges de Medeiros, representados por seus lenços brancos, moravam em Criúva. Assim, muitos confrontos foram evitados durante esse movimento armado.
Na Capela Santa Catarina, interior de Caxias do Sul, onde ainda cantam curucacas em meio a araucárias, estão os descendentes de Bortollo de Rechis, nascido no século XV, instigados para o resgate da própria história e ao estreitamento dos laços de família através de prazerosos encontros festivos.