Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Fotografias de Família

A fotografia detém tempo, fatos, lembranças, memórias.

Sou adepta e apaixonada pela arte de fotografar, pois ela tem o poder de segurar o tempo e suas afeições. Talvez, herança pela convivência com meu pai, fotógrafo semiprofissional nos anos 1950 e 1960. Tempo em que a profissão não dava sustento, assim como os bailes que  animava com sua gaita e festas que aconteciam nas salas de residências que abrigavam grande número pessoas. Aniversários, batizados, casamentos, onde as noivas eram transportadas por mulas e as comemorações se iniciavam pela manhã, com o café na casa da noiva, e duravam até a hora do galo cantarolar, no amanhecer do dia seguinte, já na casa da família do noivo.
Talvez por animar festas, meu pai também sentiu a necessidade de aprender a fotografar e revelar filmes,  registrando  momentos alegres de tantas pessoas, unindo o útil ao agradável.
Hoje, ainda guardo a máquina que preservava a sete chaves; também, a lembrança do quarto escuro em que não podíamos adentrar. A escuridão para a hora de revelar o produto da sua arte não permitia que crianças chegassem perto do ambiente, que nos parecia tão mágico quanto enigmático. O que não deixava de ser, pois ali, revelações comporiam histórias e perpetuariam momentos. Ainda guardo fotos, clássicas e belas, em preto e branco, para que eu possa dar o colorido com as tonalidades da essência e das nuances da minha saudade.
A fotografia detém tempo, fatos, lembranças, memórias. Assim, por meio delas volto para cada instante do desenvolvimento dos meus filhos. Hoje, uma das maneiras de tê-los por perto e senti-los como o ar que respiro.
A vida é feita de pequenos feitos que se transformam em grandes momentos, com detalhes e sutilezas que nos confirmam de que tudo valeu à pena. E, quanto maior a simplicidade, melhor o sabor. 
Durante essas férias, consegui fotografar uma família de beija-flores, desde os cuidados com a feitura do ninho até o ensaio dos filhotes para pequenos voos, quando também pareciam ter descoberto a comodidade, o que, pelas atitudes dos pais, foi absolutamente desaprovada. As pequenas aves com minúsculos bicos eram constantemente provocadas para que saíssem da árvore com o alimento fácil, oferecido pela água adocicada dos bebedouros envolvidos por flores coloridas, em especial, vermelhas e amarelas, cores da preferência dos bichinhos. Afoitos e fazendo peripécias e estripulias exibicionistas, pareciam saber que estavam sendo fotografados. Como num ritual, procuravam insetos, ingeriam o néctar das flores e dançavam entre as folhas numa sincronia de movimentos e algazarra sem fim. Com o bico afinado, estendiam a língua e fisgavam pequenos insetos distraídos. Dois irmãos. Um menor, outro mais desenvolvido. O pai insistentemente tentava expulsá-los da pequena árvore que os abrigava, tentando encaminhá-los para alçar voo, o mais perfeito e alto possível, na conquista da plenitude e independência para seguir a vida.