Fenavindima e sua história
Contar histórias dentro da história faz manter viva a chama da cultura de um povo, para que a linha do tempo não seja interrompida
Próximos da realização da XIV Festa Nacional da Vindima, busco na memória da cidade fatos sobre o evento que deveria estar movendo os mais de trinta mil habitantes de Flores da Cunha.
Contar histórias dentro da história faz manter viva a chama da cultura de um povo, para que a linha do tempo não seja interrompida. Faz valorizar bens imateriais, sem riscos de perda de identidade ou esquecimento dos que construíram a cidade de forma implícita ou explícita.
Foi na segunda metade da década de sessenta que Raymundo Paviani, então prefeito, dizia que seu desejo era realizar uma mostra de uvas e seus derivados, tornando visível aos turistas a riqueza do nosso principal produto. No final do mandato como prefeito, resolveu fazer novos investimentos, surgindo aí a oportunidade de realizar seu sonho.
Numa conversa com o vigário da época, Frei Tomaz de Machadinho, em tom de brincadeira, surgiu a pergunta: “Sai ou não sai a Festa da Uva?”. O Prefeito Raymundo, então, foi até a janela do seu gabinete (a Prefeitura funcionava onde hoje é o Museu Pedro Rossi) e disse: “Olhe do outro lado da rua, tem um monte de pedras para a construção do Salão Paroquial”. Sugeriu que, se a Paróquia construísse a parte térrea do salão e a cobrisse com laje até janeiro de 1967, a Prefeitura organizaria uma Feira de Uvas. Frei Tomaz respondeu-lhe: “Feito. Vou falar com a Comissão da Igreja Matriz e dar início às obras para que fiquem prontas até janeiro de 1967”.
Cumpriu-se a promessa. Foi um sucesso total. A Festa da Vindima mudou seu ritmo de progresso após a Festa da Vindima.
Um fato peculiar ocorrido na primeira Festa da Vindima foi o caso do carro alegórico dos caçadores: um dos seus integrantes, em meio à euforia do evento (inusitado para Flores da Cunha), disparou tiros com munição em sua espingarda de caça. Sob a sacada da casa da família de Augusto Basso, situada na Avenida 25 de Julho, atual casarão do Posto do Élio, estavam treze amigos, entre eles Ana Amélia Lemos, Ana Marta Basso Carpegiani, Élio Salvador, Alcides Vanelli e Philipp Alfons Engeldrun, vindo da Alemanha ao Brasil com 22 anos de idade. O tiro acertou um dos olhos de Alfons, o Alemão, como era conhecido.
Ele foi levado de avião para uma clínica em São Paulo, onde estava acontecendo um importante congresso de oftalmologistas. Um médico da Alemanha que participava do evento cuidou do caso. Isso o salvou da extração do olho e teve preservada parte da visão. Philipp Alfons Engeldrun trabalhou como capataz da antiga Granja União por longo período de tempo. Ele foi casado com Eludi Pedron, a professora Dica, que ensinou a língua inglesa a tantos florenses.
Agora, nos aproximamos de uma nova edição desse importante evento para o município. Ao longo dos anos, a Festa se transformou, assim como a cidade. Mas a Vindima é, na sua origem e ainda hoje, uma celebração dos frutos do trabalho e do que se conquista em comunidade. É um espaço de resgate da nossa cultura e de algo que sempre foi crucial para o desenvolvimento de nosso município: o cultivo das boas relações entre setores, serviços, entidades e, especialmente, pessoas; o cultivo do senso de coletividade. O sucesso da Vindima será o sucesso de Flores da Cunha. O sucesso de Flores da Cunha é o sucesso de todos nós. Devemos protagonizá-lo.