Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

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Animal de tetas

Motoristas apressados e impacientes, acelerando um pouco mais por ser final de semana

Na tarde de sexta-feira a cidade abrigava pessoas que iam e vinham. Motoristas apressados e impacientes, acelerando um pouco mais por ser final de semana.
Eis que uma jovem tenta atravessar a Avenida 25 de Julho pela faixa de segurança. Segue à meia pista, aguarda um automóvel passar e se depara com uma moto ocupada por dois tripulantes, que ao cruzarem por ela, um deles aborda com visível ira!  Incomodou-se por ela estar tentando atravessar a rua, mesmo pela faixa de segurança.
- Oh, animal de tetas!, gritou ele. 
Logo imaginei o constrangimento da garota, sendo chamada de – animal de tetas –. As pessoas imediatamente voltaram os olhares para a cena que chamou a atenção. 
Confesso ter ficado chocada e indignada. O fato atucanou meu pensamento por algum tempo. Fiquei realmente incomodada.  Queria ter dito a esse moço deselegante que um animal de tetas o amamentou, cuidou na sua infância, outro o alfabetizou e provavelmente, outro faz parte de seus deleites... Um animal de tetas que passa pela menarca, ciclos menstruais, partos, menopausa. Animal de tetas que tem sofrido violências domésticas, que sabe o preço da autonomia e independência com a sobrecarga de afazeres e acumulando funções. Animal de tetas que cria filho, lava, passa, cozinha, administra lares e vidas, escolas, entidades, empresas e tantos serviços.
Uma indelicadeza, total falta de respeito, consideração e bom senso. Um ser que utiliza o volante como forma de poder e arma pronta a disparar, mesmo através de palavras. Então pensei e conclui, que pedestres, em muitos casos, estão realmente sendo tratados como animais.
O trânsito está regido por descuidos, xingamentos, motoristas atravessando sinais fechados, avançando preferencias, estacionamentos ocupando duas vagas, gente descontrolada com nervos à flor da pele, pedestres atravessando fora de faixas de segurança ou com sinal verde para veículos. Todo cuidado é pouco, enquanto persistirem a falta de consciência e de educação no trânsito.