Maria de Lurdes Rech

Maria de Lurdes Rech

Cotidiano

Professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria de Lurdes Rech é autora do livro de crônicas Prosa de Mulher e do CD de crônicas e poemas Amor Maior, vencedora de diversos concursos literários em nível nacional. Membro da Academia Caxiense de Letras. Foi produtora e apresentadora do programa cultural Sábado Livre da rádio Flores FM de 2004 a 2012. Colunista do jornal O Florense desde 2007. Atuou na Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores da Cunha, onde coordenou a implantação dos Centros Ocupacionais da cidade. Exerceu a função de diretora e vice-diretora de escolas. Atualmente, realiza o trabalho de pesquisadora no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi com o projeto Vozes do Tempo.

Contatos

A cor do tempo

No momento, meu deleite tem sido conversar com pessoas mais experientes, visando resgatar fatos referentes aos antepassados que foram protagonistas da colonização e imigração italiana

Atuando como professora tive o privilégio de desempenhar diversas e diferentes funções na área da educação, o que tem contribuído para a visão e compreensão do mundo e ato de viver.
Dentre tantas atividades desempenhadas, ressalto o fato de todas envolverem pessoas. Gente de diferentes idades e características. Gente pequena e gente grande, em estatura e beleza interior, o que foi gratificante.
No momento, meu deleite tem sido conversar com pessoas mais experientes, visando resgatar fatos referentes aos antepassados que foram protagonistas da colonização e imigração italiana. Tenho plena convicção de que, quando perdemos um idoso, uma biblioteca se extingue, uma história se perde e uma memória se apaga para sempre.
Diante da realidade social tão desoladora, felizmente, optei por deslizar com minha mente e mãos sobre os feitos e efeitos de um tempo que não voltará, mas que deixará o registro de conhecimento e experiências. 
Muitos têm sido os encontros em que me emociono, diante dos olhares acesos e peles rosadas de homens e mulheres de cabelos brancos, que têm muitas lembranças dos dias e noites que passaram com os nonos e nonas, nascidos na Itália, vindos para o Brasil apenas com a esperança, os sonhos e grande religiosidade. Reminiscências, resquícios e vestígios da nossa cultura estão bem vivos, mantidos na memória dessas pessoas que ainda fazem parte do nosso convívio.
Sem culpas e mágoas, são transparentes e pra lá de especiais, ressaltam que a vida valeu a pena pelo trabalho e pela família que constituíram. Julgam-se felizes e gratos pela oportunidade da existência. Com muita simplicidade, são totalmente desprovidos de luxúrias e vaidades, valorizando uma boa conversa, os afetos e afagos dos cuidadores de coração a coração.
Apreciam uma visita e a ausência do relógio, para que se permaneça horas em sua companhia, ficando satisfeitos ao poderem registrar um pouco das suas histórias e façanhas dos seus antepassados, transcendendo ao tempo e à memória, mantendo vivas suas origens, tradições e trajetórias de vida.
Quanto a mim, a cada contato um aprendizado. A cada olhar uma emoção. A cada palavra mais predileção ao que é da nossa cultura. Maravilhosa experiência, poder resgatar preciosidades sem perceber a passagem e a cor do tempo.