Às lágrimas
Não é vergonha alguma, à iminência de completar 41 verões, contar que chorei feito criança no escuro da sala de cinema
Não é vergonha alguma, à iminência de completar 41 verões, contar que chorei feito criança no escuro da sala de cinema, há aproximadamente um mês. Cinco vezes durante as duas horas e meia de filme, para ser mais exato. A primeira, surpreendentemente antes mesmo do início da história. Depois dos anúncios comerciais e dos trailers, quando seria o momento de surgir o logo do estúdio, eis que o próprio diretor do filme aparece na tela, em uma inesperada mensagem de agradecimento por termos saído de casa e ido ao cinema assistir aquele filme, agora que temos uma infinidade de opções no streaming.
Em tom confessional, Steven Spielberg antecipa que aquele também é seu filme mais pessoal, embora não seja propriamente uma biografia, é o mais íntimo e que mais fala sobre si. Aquele gesto de generosidade e humildade me emocionou de forma imprevisível e, notadamente, norteou toda projeção que veio a seguir.
Em Os Fabelmans (2022, já fora de cartaz nos cinemas mais próximos), acompanhamos a história de Sammy, o alter ego de Spielberg que, quando criança e adolescente descobre sua vocação para dirigir filmes. Foi como se o diretor tivesse pego a minha mão e dito (a mim e imagino a todos aqueles que alguma vez já se sentiram colegas de profissão de Spielberg), que aquele filme seria uma jornada íntima adentro da própria essência.
A essa altura do campeonato, Spielberg, cineasta norte-americano de 76 anos e com 52 de profissão, dispensa apresentações. Os Fabelmans, seu mais recente longa-metragem, este que me levou às lágrimas na sala de projeção, está indicado para as principais categorias do Oscar e pode levar algumas estatuetas, como Roteiro, Direção, Música e, provavelmente, Melhor Filme.
Os Fabelmans entra para a filmografia do cineasta como um dos seus maiores êxitos, não só pela impecável realização cinematográfica, mas pelo serviço em nos fazer vivenciar e revisitar a paixão e o amor que temos por filmes e pela sala escura. Afinal, em tempos em que o ódio parece cumprir um triste papel propulsor no cotidiano, falar sobre aquilo que nos desperta o amor jamais será demais.