Irmãs Clarissas Capuchinhas

Irmãs Clarissas Capuchinhas

Conversando Com Você

As Irmãs Clarissas vieram ao Brasil a convite dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Chegaram aos 21 de janeiro de 1979. Ficaram hospedadas com as Irmãs Clarissas de Porto Alegre por alguns dias e em 1º de fevereiro deste ano foram morar em uma casa na cidade de Caxias do Sul até que o Mosteiro fosse habitável. Em outubro de 1981, mesmo sem a conclusão do Mosteiro, as Irmãs vieram para Flores da Cunha.

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Vocação ou vida sem rumo

Pensando em você, revivi momentos que permanecem além do tempo imbuídos de doces recordações.

Pensando em você, revivi momentos que permanecem além do tempo imbuídos de doces recordações. Os cabelos lembrando um dia chuvoso, o semblante sereno, cada ruga denotando um significado e um mistério. Persistência e paciência heróica mediante os revezes da vida fizeram a diferença. É impossível relatar uma vida em algumas linhas, mas é possível esboçar nuances de uma vocação acolhida, respondida e comprometida além do palpável e do lógico. Ainda posso ouvir sua voz ressoar um tanto rouca com a tonalidade constante do acolhimento e do aconchego: - Senti sua falta, olha o que fiz prá te esperar? Ao sentir o aroma do chocolate quente, ainda mais nos dias gélidos de inverno, meu estômago já se agitava bem como avivava os olhos do garoto maroto. Você sempre tinha um jeito ímpar de me fazer esquecer que estava chateado... Se acontecia algum problema na minha bicicleta, cantarolando e como um experiente mestre, cujo eficiente auxiliar era eu, tudo se acertava e quem recebia os elogios ... era eu. – Puxa, eu que fiz tudo isso?! Vou contar prá mamãe! Nos períodos turbulentos e de grande efervescência emocional, o seu silêncio falava mais que as palavras ou suas palavras provocavam interrogações, foi assim que aprendi a pensar, desejar e buscar concretamente. – Grandes realizações iniciaram-se com sonhos... E foi num destes momentos mágicos que você contou-me que numa determinada região da terra, o inverno tornara-se rigorosíssimo prejudicando os ouriços que lá habitavam. Estes estavam desaparecendo rapidamente. Percebeu-se também que ao serem encontrados sem vida , uns estavam isolados dos outros, solitários. Os ouriços que conseguiram sobreviver reuniram-se para dialogar e refletir o que estava acontecendo. Após ampla troca de idéias, concluíram que se fossem mais unidos e convivessem juntos poderiam superar o frio e vencer a extinção . A proximidade física faria com que uns aquecessem os outros, devido o calor gerado entre eles. Porém, havia um detalhe: era necessário encaixar harmoniosamente o que lhes defendia - seus espinhos. Coube a cada um deles superar este desafio vital a todos. Pela vida afora, esta estória flutuava em minha cabeça, me auxiliando a compreender que não importa a vocação que vivencio: se sou pai, mãe, padre, religioso(a), médico, dentista, advogado, funcionário público, motorista, educador... o imprescindível é eu ser pessoa humana consciente, em constante abertura e renovação, vocacionada à imortalidade e radicalmente convicta de que sou filho(a) de Deus - muito amado(a), pois entre as linhas e entrelinhas da vida tecem-se nossa vocação. Quando nossa vida é pautada nesta certeza, ela é uma ressonância e extensão da paternidade/maternidade do Criador, redimensionada através da minha fecundidade e a partir dos pequenos gestos cotidianos de amor, união, doação, transparência, simplicidade e vida nova. Muitas vezes, somos seduzidos a agir egocentricamente, no final descobrimos que o isolamento/fechamento fere e elimina a vida. O amor quando é verdadeiro aspira ser infinito com desejo de eternidade. Toda vocação vivida no amor, por amor e com amor sabe oferecer o que há de melhor em si mesmo, é contínuo espaço de crescimento, partilha a verdadeira liberdade, assume com vigor a fragilidade, sabe que se está aqui de passagem, vive intensamente o momento presente, é cortesia e elegância serenas, é simplesmente incrível porque escutando com o coração, adquiriu a verdadeira sabedoria . Com certeza, você leitor(a) deve admirar alguma pessoa que é exemplo de vida. Eu digo, que bom que vocês existem, saibam que são pequenos oásis como também estrelas cintilantes que espargem luzes em nosso caminhar. Parabéns a você que realmente sabe mergulhar na sua vocação! Um grande abraço e Paz e Bem!
Irmã Shizuko Obuti - Clarissa capuchinha