Transplante
Estamos no mês dedicado ao Coração de Jesus: Coração cheio de ternura de uma criatura completa e profundamente humana, Filho de Maria.
Disse Shakespeare uma vez: “Existem mais coisas entre a terra e o céu de quantas pensem vossas filosofias”. Tinha razão. Só considerar as conquistas da tecnologia: quais resultados estrondosos são produzidos (por meios invisíveis aos profanos...). E se pensarmos no conjunto de elementos invisíveis que chamamos ‘coração’... Não o coração que é o elemento anatômico situado no centro do corpo para bombear o sangue e que as adolescentes reproduzem com paixão e fantasia em mil modos e cores, mas o coração que significa “a profundidade do ser humano, o centro oculto, intangível para nossa própria razão e para os outros”. A pessoa humana, composto psicossomático (psique-alma e soma-corpo) possui dentro de si um fundo anterior à pluralidade dos elementos que a compõem... Tal profundidade, experimentada como centro, é designado com a palavra ‘coração’.
Assim, quando Lucas (2,51) nos diz que Maria “conservava a lembrança de todos esses fatos no seu coração” entende referir-se àquele ‘fundo’ anterior à alma e ao corpo. Alma e corpo formam um composto, a pessoa humana, sempre orientada para Deus, pois é feita a sua imagem e semelhança. É desse fundo que saem o sim ou o não: o sim da correspondência ao amor e à liberdade, ou o não do curvar-se sobre si mesmo, do pecado, do mau uso da liberdade.
De fato, esse centro oculto, sempre orientado para Deus Criador, pode ser bom ou mau. A gente não sabe: só o Espírito de Deus pode perscrutá-lo. É o lugar da verdade, da decisão, do encontro. Coração bom é aquele que busca Deus com amor, na confiança e na fé. É o coração mesmo que deseja, pois foi criado para isso: como diz o salmo 27,8: “A Ti fala meu coração... Eu busco a tua Face, Senhor”. Essencial é a confiança, é a fé. É ainda Lucas que nos conta a admoestação de Jesus aos discípulos de Emaús: “...lentos de coração para crer...”.
Estamos no mês dedicado ao Coração de Jesus: Coração cheio de ternura de uma criatura completa e profundamente humana, Filho de Maria; e Coração Divino: amor e infinito que se deixa transpassar pela lança. Santa Verônica Giuliani sabe alguma coisa das maravilhas por Ele realizadas. Ela que queria assumir sobre si as penas devidas pelos maus pensamentos, roubos, adultérios, homicídios, cobiças, fraudes, e assumia, de fato, todas as misérias humanas e que recebia o Coração de Jesus em lugar do seu. Um verdadeiro transplante...
O Filho de Deus se fez homem para isso: não transplante pela cirurgia, nem por dons extraordinários, mas pela ação do Divino Espírito Santo, desejada e correspondida na humildade e na perseverança, na fidelidade e na esperança, até alcançar o comportamento que papa Francisco deseja para cada um de nós.