Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Vamos à América, lá tem terras e trabalho

Grupo de moradores do Castello de Arzignano, uma cidadela no alto de uma colina em Vicenza, resolveram partir para "fazer" a América

Li muito sobre a imigração, e vos conto um fato muito interessante, que aconteceu com um grupo de moradores do Castello de Arzignano, uma cidadela no alto de uma colina em Vicenza. Lá na Paróquia de N. Sra. Maria da Visitação, próximo a 150 pessoas, unidas, resolveram partir para fazer a América, como diziam. Imaginem nos anos de 1880, casais com filhos, netos, viúvas, algumas senhoras grávidas e crianças de poucos meses. Embarcaram, como se fosse hoje, em uma situação figurativa, em uma nave rumo a um planeta, apenas com ida e sem possibilidade de volta. 
  
A decisão 
Em um anúncio de navio para o Brasil, dizia: venham construir os vossos sonhos em família.  Um país de oportunidades. No Brasil podeis ter o vosso castelo. O governo dá terra e utensílios a todos. 
O grito propagandístico ecoava entre os colonos, muito mais entre os contadini, agregados que viviam nas terras de seus patrões produzindo somente para sobreviver. A América chamava oferecendo propriedade de terra, isso alimentava sonhos. Terra de pequenas propriedades, Arzignano, em Vicenza, mistura a planície com as primeiras montanhas rumo ao norte. As famílias escutam as propagandas, de que a América precisava de mãos em troca de terra. A conversa vira o centro de todos os encontros, nos filós, nas festas de igreja, antes e depois da missa. Ouve-se e lê-se cartas de pessoas de outros lugares que já foram, elas contam suas desventuras, mas com orgulho reafirmam que tem, acima de tudo, um pedaço de terra para plantar, e isso superava tudo.  
Diante de tantas falas, a pequena comunidade se mobiliza. Das 300 famílias da Paróquia, umas 20 decidem partir, entre elas a dos Molon (Pietro, Alessandro, Ângelo e Antônio), Verza (Antônio e Ângelo), Fochezatto, Tadiello, Dani, Galiotto, Ferrari, Magnabosco, Zorzin, Zanini, Baldisserotto, Zini, Fracasso (de Chiampo) e outros que vão sendo descobertos, em especial na relação de passageiros do navio Berlin.
 
A aventura 
Embarcados em Gênova, o navio parte em 1882, e depois de longas e tortuosas jornadas em alto mar, enfim chega ao Rio de Janeiro, onde o transatlântico dava por encerrada sua missão. Depois de alguns dias no Rio, havendo condições de transporte, os imigrantes eram embarcados em navios menores, chamados de corvetas. Partiam do Rio de Janeiro para o porto de Rio Grande, e depois até Porto Alegre, pela Lagoa dos Patos. De Porto Alegre seguiam com embarcação menor, rumo a São Sebastião do Caí. Desse ponto até o destino entrava em cena o cargueiro ou a carreta, mas sobre eles iam apenas as bagagens, as crianças e as pessoas mais idosas, os demais seguiam a pé, subindo a acidentada estrada. Paravam para comer, acampando à noite ao redor de fogueiras com medo de animais e bugres.
Vários dias depois chegam à Nova Milano, que foi colonizada em 1875.  Um pouco além ficava o Campo dos Bugres, ou Fundos de Nova Palmira, que viria a ser sede da Colônia Caxias. O maior grupo de imigrantes de Vicenza caminha mais uns 20 km da sede, se estabelece na 10ª Légua da Colônia Caxias (Travessões Marcolino Moura, Jacinta e  Pinhal), juntamente com a maioria  das numerosas famílias citadas anteriormente, saídas de Arzignano, onde  hoje é o distrito de Otávio Rocha, município de Flores da Cunha.
Os novos imigrantes, por coincidência ou talvez por terem reservado seus terrenos à sede da Colônia Caxias, estabeleceram-se junto aos seus conterrâneos já chegados, em especial de cidades próximas a Schio. A mesma língua – o dialeto vicentino –, os mesmos costumes, a mesma culinária, os mesmos santos padroeiros de Veneza (São Marcos e N. S. da Saúde) e uma devoção especial dos Molon e dos moradores do Castello de Arzignano: Santa Eurósia. Trouxeram dela várias fotografias, invocada contra as intempéries. Houve praticamente um transplante de numerosas famílias vicentinas do Vêneto para o coração da região italiana gaúcha. 
Abriram picadas, caminhos, roçaram, capinaram, lavraram, serraram os pinheiros, plantaram trigo, milho, linho e videiras. Por isso, por gerações, essas terras se mostraram a maior fonte de renda e sustentáculo dos migrantes e seus descendentes. As videiras geraram prosperidade, como em poucos lugares do Brasil.  
Não resta dúvida das inúmeras dificuldades e conquistas vividas pelas primeiras gerações. Porém, com muito trabalho e fé, os imigrantes e seus descendentes fizeram da Serra Gaúcha uma região próspera, atualmente habitada por um milhão de pessoas, calculando-se que no RS o sangue italiano ainda se multiplica em 3 milhões de habitantes. No Brasil, são estimados 30 milhões de descendentes italianos. 
Havia uma preocupação dos mais antigos na preservação do dialeto vicentino, e a esperança que alguém pudesse voltar à Itália e avisar aos parentes que os de Arzignano tinham vencido no Brasil. Que tinham sobrevivido e estavam felizes por terem emigrado.

 

Cerca de 150 pessoas partiram, de navio, da cidadela do Castello de Arzignano, seus nomes estão registrados no livro de passageiros ‘Berlin’. Os imigrantes trouxeram consigo fotos de Santa Eurósia, venerada em Otávio Rocha.

140 anos dos Molon – 11º Encontro
As famílias Molon do Brasil irão se reunir nos dias 21 e 22 de outubro, em Otávio Rocha, para o 11º Encontro. No sábado à noite haverá filó, e no domingo, às 10h, missa e às 12h30min, almoço de confraternização. As reservas podem ser efetuadas pelo fone (54) 3292 1808.
O livro “Molon, história de uma família”, editado em 2001, já contava mais de 8 mil descendentes espalhados pelo Brasil, somando os de sobrenomes masculinos e agregados às famílias das numerosas senhoras. A história brasileira dos Molon tem forte vinculação ao trabalho agrícola das uvas e vinhos, partindo para outras regiões a divulgação da comida típica italiana, atividades industriais e comerciais, e nas mais diversas profissões liberais e religiosas. 

Brasão dos Encontros da família Molon.