Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Os meios de transporte dos imigrantes

Nas costas, em cima de uma mula, tropeiros, uma carretinha, uma carreta de 2 a 11 mulas, o trem, as balsas e o caminhão...

Estamos chegando aos 150 anos da imigração italiana no nordeste gaúcho, e vários personagens que testemunharam, vivenciaram e influíram no desenvolvimento da região estão sendo esquecidos.  Lembramos os tropeiros, os carreteiros, os balseiros e assim por diante. 
Nascido no interior, no meio rural, vivi no dia a dia a vida da colônia, onde ainda vivenciei os resquícios da cultura que circulava no lombo dos animais, nas rodas das carretas, e no puxar a mula para arar, ou buscar os animais nos potreiros, e saudar a chegada das primeiras “tobattas”, depois o trator, que veio facilitar a vida da colônia.
Mas hoje quero contar, pelos estudos, as peripécias que viveram os imigrantes, que após uma longa viagem de navio, atravessaram o Atlântico, depois Rio de Janeiro, Santos, Rio Grande, Porto Alegre e São Sebastião do Caí. Dali para buscar as suas colônias, os da Colônia Caxias, tinham em torno de 80 quilômetros até chegarem a Nova Milano, inicialmente. Depois uma outra rota foi aberta, passando pelas regiões colonizadas pelos alemães, chegando até Nova Palmira, subindo pela 3ª Légua e chegando ao Campo dos Bugres. Inicialmente o local, onde nasceria Caxias, era chamado também “Fundos de Nova Palmira”. 

A Locomoção
Do Caí, as primeiras levas de imigrantes, por meio de estreitas picadas, as malas, os caixões, as crianças, tudo era transportado nas costas. Tinham ainda que dormir no meio da mata, porque os mais ou menos 80 quilômetros eram percorridos em diversos dias.   Um segundo meio de transporte, era a chegada de alguma mula, ou cavalo, que já auxiliava muito, pois ainda colocavam uns cestões, onde iam as crianças, ou as nonas, e mesmo alguma senhora grávida. Depois surgiram o que chamamos de tropeiros. Vinham eles organizados com uma dezena ou mais de animais, e podiam oferecer um transporte mais facilitado. Com a melhoria daquele corredor, com o tempo, começou a passar uma carretinha, com duas rodas e um animal, que nós chamávamos de “galiotta”. Depois seguiram as carretas grandes de 2 a 11 animais, que percorreram os caminhos não só dos imigrantes, mas que portaram o progresso na venda e compra, até o porto localizado em Caí. 
Desde 1908, a Serra, a partir de Carlos Barbosa, recebeu o trem que vinha das colônias alemãs, e depois se estendeu até Caxias, com festejos em 1910. Nova Trento, em 1935, trocou o nome para Flores da Cunha, ainda com esperança pelo trem.
Os rios navegáveis, até o Antas, depois da travessia Bento/Colônia Alfredo Chaves (Veranópolis), serviram de cenário para as balsas. Tratava-se de agrupar, amarrando um tronco no outro, no primeiro tempo e descer, em dias de fortes correntezas. Com o surgimento das serrarias, eram as tábuas, amarradas às dúzias, que percorriam os rios nas mesmas situações, rumo à capital.

Infraestrutura
Em torno dos carreteiros, surgiram as acomodações de acolhimento, com pousadas, potreiros, plantações de forragem. Até que um dia, na década de 1930, começaram a circular os primeiros caminhões. Foi um susto para os carreteiros, que viram, com o tempo, encerrar as suas atividades comerciais, ficando as mulas e carretas mais para o transporte nas colônias. Depois, alguns, partiram para a compra de caminhões, e as pequenas pousadas, viraram restaurantes, hotéis e postos de gasolina. Portanto, sobre as rodas das carretas, praticamente por mais de 50 anos, percorreu o progresso de toda uma região.      

 

Lançamento
Conto tudo isso, resumido, pois na noite da última terça-feira, dia 29 de agosto, tive a honra de participar, em Bento Gonçalves, do lançamento do livro “Transportes”, dentro de uma série de livros relacionados aos “150 anos da Imigração Italiana”. No mesmo histórico volume de 300 páginas, o autor Luiz H. Rocha, me honrou com o convite e a inclusão de um texto de minha autoria denominado “Os modais da Imigração Italiana”. No texto desenvolvo, em detalhes, todas as dificuldades que passou a primeira geração, em especial, para a sua locomoção, venda e compra dos artigos para sua subsistência. Fico muito feliz com o registro, uma homenagem àqueles que, lançados no meio da selva da chamada “Região Colonial Italiana”, a domaram, e nela fizeram aparecer, como um “milagre da montanha”, uma região muito forte e progressista, que orgulha a todos.

O autor, Floriano Molon, em companhia do editor, Luis H. Rocha, do livro ‘Os Imigrantes O Trabalho e o Progresso', coleção Lavoro Italiano.