Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Meti fora i piati, che stà notte, vien la Mussetta

Coloquem fora os pratos que nesta noite vem a mussetta

Como é doce e inocente lembrar dos natais do passado. Simples talvez como o presépio de Jesus, pois circulávamos, no dia a dia,  entre vacas, mulas, ovelhas, estrebarias, feno... mas o Natal já tinha um alegre sabor.
Antes dele, toda a família se envolvia, numa atividade anual. Era a hora da limpeza da chamada cozinha, em preparação as festas natalinas. 
É interessante destacar que quando os imigrantes italianos chegaram a serra gaúcha, se preocuparam em construir duas edificações: uma era o prédio da cantina (parte de baixo de pedra) os dormitórios e o sótio; a outra era chamada de cozinha, onde tinha uma sala para visitas e festas, e a cozinha propriamente dita, com o fogão, mesa, local de lavagem da louça e preparação dos alimentos. Ali também tinham os mantimentos.
Com medo de incêndios e perder tudo, faziam este sacrifício, exigindo a travessia de uma para outra construção, à noite com chuva ou luar. 
Perto do Natal havia um dia em que toda a família se envolvia na limpeza da cozinha. Para tirar a sujeira, começava de manhã cedo, escadas, baldes, sabão, cinza, esfregões, vassouras... parecia uma guerra.  Esfrega por um lado, atira água para cima, cinza no chão, sabão... varrer, passar pano, utilizar a escada, subir na mesa grande com o cabo da vassoura, bater na chaminé para cair a cinza. Limpar a caixa de água do fogão, retirar os santos para não se molharem. No final do dia, um cheiro perfumado de limpeza e hora de aguardar as festas, a boa comida e as visitas de tios distantes. Depois fazer as cucas, os biscoitos, engordar umas boas galinhas, fazer os agnolines, preparar os melhores vinhos... Um simples mas belo presépio também se fazia, com um galho de pinheiro, barba de pau, casinhas dos caramujos, ovos vazios pendurados, musgo entre os caminhos, um “santinho” ou estátuas Sagradas,  e também a mula, a vaca e umas ovelhinhas. Para os animais se utilizava de duas batatas: colocar os pés, rabo, orelhas e feijões pretos, que faziam o papel de olhos. Na tarde de 24 para 25, a mãe dizia – “coloquem fora os pratos, que nesta noite vai passar a Musseta (a mulinha). Precisam colocar nos pratos, grama verde e também farelo”. Era a comida preferida da mulinha, que dispensada por José e Maria, passava nas famílias e deixava os presentes para as crianças, como doces, meias, sapatos, roupas...  Não havia a figura do Papai Noel, e a grande refeição era no domingo ao meio-dia, quando tudo o que fora preparado, vinha para enfeitar a mesa e alegrar os corações familiares.
Meu desejo que todos tenhamos ótimos Natais e nós, os  veteranos, sentiremos saudades da nossa infância e olhando para trás, veremos que muitíssimos já não então em nossas mesas. Estarão por certo, festejando em outras colônias, as celestiais. Feliz Natal!