Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

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La mamma e la nonna, due straordinárie personàgi della nostra vita

Entre o Dia das Mães, comemorado no dia 9, e o Dia da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, no dia 20, me traz à lembrança duas personagens invulgares do meu passado

Entre o Dia das Mães, comemorado no dia 9, e o Dia da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, no dia 20, me traz à lembrança duas personagens invulgares do meu passado. Recordar dos imigrantes, e assim o fazemos sempre no geral, às vezes esquecemos de recordar das figuras das mulheres colonizadoras. Pela experiência de visitação à Itália, lá mesmo que pobres, sem trabalho, sem comida, mas tinham uma estrutura habitacional com as suas cozinhas, com quartos e camas, pias com água e banheiros. Ultrapassemos agora, mais de 12 mil quilômetros, e essas mulheres chegam no Porto de São Sebastião do Caí. Começa então a caminhada de mais de 80km até encontrar as sedes de Nova Milano ou a Colônia Caxias. A bisavó materna teve o nascimento do menino, um mês depois de ter chegado à Serra, imagine, viajou grávida!  
Mas voltemos à caminhada entre a floresta, numa estreita picada, reunindo no caso meu familiar, um grupo de 150 pessoas entre adultos e crianças da mesma cidade, de Arzignano/Vicenza. Não era viagem para um dia. Tinha por certo algumas mulas ou umas carretinhas, pois isto se passou em 1882/83. Onde parar no meio da mata? O que comer? Como assustar os animais selvagens? Os índios? Uma preocupação maior para as nonnas e mammas: o que dar de comer aos pequenos?  
Chegados à sede da colônia, uma pausa com boa alimentação, um banho e, novamente, partir para o desconhecido. Compraram praticamente todos os lotes do Travessão Pinhal e alguns do Marcolino Moura. Imagine cortar os pinheiros (altos e desconhecidos) para abrir uma clareira na mata. Onde fazer a comida sem fogão, sem cozinha e sem quartos e banheiros? Os homens se preocupavam com os grandes trabalhos, de preparar a rude casa, abrir espaço para a horta e para os primeiros plantios. Mas o que vamos comer hoje? Os choros dos pequenos, as lágrimas que correm escondidas das mulheres aventureiras... O avental, esta peça importante, servia também para enxugar os olhos. Com a força que vinha das imigrantes, como cernes, as principais necessidades foram sendo solucionadas.
No final da década de 1940 eu nasci. Da terceira geração muita coisa já engrenada, as moradias, as hortas, os parreirais com sustentação de madeira, as plantações. Mas, mas...  sempre o mas. A nonna paterna perdeu o seu esposo com 42 anos, filho do casal imigrante. Em 1953 perdeu os seus dois filhos de tuberculose, um deles o meu pai. As mais longínquas imagens me recordam daqueles dias, de profundas tristezas. Resumindo o cenário familiar, uma vó e uma mãe, viúva, com 9 filhos. A mamma, dinâmica e resoluta, assume o comando da família e encaminha os trabalhos agrícolas e a vivência familiar, em especial na questão da alimentação. Nem podia reclamar diante do que a família já vinha se alimentando. Mas, aqui que quero chegar. Na minha situação do penúltimo filho e meu irmão menor, creio que tomamos uma estima muito grande pela figura da nonna. Ela nos consolava, ela nos dava atenção, ela nos dava colo. Uma amizade com ela que se estendeu até os 94 anos de vida que Deus lhe deu.  
Necessário se faz, nas experiências familiares de outros tempos e de muitas dificuldades, o extraordinário que as colonizadoras e suas filhas fizeram para o engrandecimento das famílias e de toda a região colonial italiana, aqui mencionada. Nonna “Neta” e mamma Mercedes devem estar recebendo o merecido prêmio na eternidade.