Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Inco i Vien Bater el Formento

No inverno, se plantava trigo. Morro acima, no meio das pedras, a semente era jogada.

E impossível, quem viveu até os anos 1970, não se lembrar das colinas, em tempo de primavera, tomadas por duas culturas: os vinhedos e os trigais. O vinho e o pão santificados pelo cristianismo.
No inverno, se plantava trigo. Morro acima, no meio das pedras, a semente era jogada. Aqui se poderia apelar de novo para a Bíblia, quando é citado que alguns grãos caem na estrada, no meio dos espinhos, nas pedras e outros em terras boas. Na colônia italiana da Serra, terras pretas, ótimas para a agricultura, e lá vinha ele crescendo após atravessar o inverno e se embalar pelos ventos de novembro. Quando apanhava a cor de ouro, era tempo de colheita. Com a foicinha, mão após mão, se fazia um feixe e o colocava no chão. Depois, eram recolhidos e, em cima de uma carreta, conduzidos para a estrebaria, onde aguardava a chegada do dia ‘de bater o trigo’. As mulheres da família, nessa espera, iam até o depósito, para separar a melhor palha para fazer a dressa. Já uns dias antes a mãe colocava algumas galinhas a mais para engorda.
- Hoje vem a máquina de trilhar o trigo! Que espetáculo bonito e diferente!
De manhã todos levantam contentes, porque finalmente vai se saber quanto trigo foi produzido no ano. Puxada por mulas, um extravagante veículo aparece ao longe, e pode-se, enfim, verificar que a máquina de trilhar está chegando. Parece um veículo vindo de outro mundo. Bonita, cheia de novidades, correias... Separam os animais, fixam a máquina na terra e tudo pronto, ligam o motor e uma pessoa instalada num lugar mais alto, onde tem uma grande boca, grita: - Está pronto para darghe paia. Começa então a alimentar o estranho veículo, com os feixes de trigo, e por baixo da máquina, exultante, brota o limpo e puro trigo. Terá coisa mais bonita para olhar! Trigo, quer dizer pão, massa, crostoli, biscoitos, fritole, nhoque... Muito trigo, quer dizer um ano com bastante comida gostosa e farta e, ainda, para os pequenos, a certeza de levar uma boa fatia de pão com marmelada, ou queijo, ou salame para  a merenda escolar e não só batatas doces ou pinhões.
Mas, também o dia de trilhar, todos da família ficavam contentes, porque era o dia que a mãe caprichava mais na comida para atender os profissionais da máquina. Os proprietários eram, normalmente, vários agricultores mais abastados, que formavam uma sociedade. Além de trilhar a sua produção, prestavam serviços aos vizinhos ou quem quisesse, normalmente em troca de uma percentagem sobre o trigo colhido. Em Caxias, havia a fábrica de máquinas Eda, da firma da De Antoni, que liderava a produção do importante instrumento de trabalho. 
O alegre dia de trilhar não existe mais. Coisas do mercado, dos preços, da mudança de cultura e, pode-se dizer também, do surgimento das grandes culturas mecanizadas em áreas em que as pedras e os sacrifícios individuais desapareceram.