Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

I anni i passa con prèssia, ecco el otono della vita

Fruto da terceira geração dos imigrantes italianos, o outono me fez somar mais um ano de uma longa existência

Fruto da terceira geração dos imigrantes italianos, o outono me fez somar mais um ano de uma longa existência. Me alegra os 73 anos bem vividos, fazendo passar um filme muito interessante, que as futuras gerações não poderão mais experimentar, tantas novidades na evolução desses tempos.   
Na casa Molon, do Travessão Pinhal, as duas cunhadas estavam grávidas. A tia, pelas mãos da parteira Luisa Michelon Schio, em 10 de abril, acolheu o menino e devido aos problemas de saúde, recebeu até o nome de “Angelin”. No outro quarto, em 11 de abril de 1949, eu vim ao mundo, numa diferença de poucas horas. Que tumulto na casa velha de madeira, com o aparecimento de duas crianças, diante das desconhecidas origens de maternidade. Dona Luisa Michelon Schio, teria providenciado dois bebes em dois pés de repolhos? Se fosse um pouco mais para frente diriam que foi a cegonha...  
Por sorte o meu destino foi melhor, em termos de vida, do que o pequeno Angelin que partiu novo. Com poucos anos, começava-se nos trabalhos de atividades agrícolas e pastoris. Cuidar dos animais, que nos ofereciam leite, ovos, penas, lã e suas carnes, em especial os suínos.  
Ali no vale, pensava que o mundo era italiano, e tinha uma cobertura como se fosse um grande ginásio de esportes. Me recordo dos abraços do Frei Eugênio (em 1949, estava sendo inaugurada a Torre de Flores da Cunha), do Frei Ricardo e outros, e em especial do Frei Floriano, de quem herdei o nome. Tudo era italiano, quando comecei a entender alguma coisa mais, nas missas dos freis, até o latim parecia nossa língua, e uma língua estranha, usada nos sermões, o português.  
De andar a pé e descalço para a escola, das idas com as mulas ao moinho, levar as mulas para lavrar, puxar as pioneiras mangueiras de “plástico”; capinar, plantar o milho e o trigo, colher os figos, os marmelos, as maçãs para as marmeladas e raspar o tacho recém esvaziado. Como esquecer aquele cheiro de “petróleo” dos chiaretos, dos cutucões na hora rezar o terço e pegar no sono. Como era bom ir fazer filô na casa dos vizinhos, quando apareceu o primeiro rádio. Então diziam, que havia ali dentro uma cabeça de uma pessoa que falava... tempos inocentes aqueles. Depois veio o rádio de pilha e, finalmente, a energia elétrica na baixada.   
Da mula e carreta de transporte, vi surgir os caminhões, algumas camionetes com carroceria de madeira, os automóveis e o ônibus que fazia a linha até Caxias. A visita nos dava alegria, mas normalmente era associada a arrancar algum dente e o medo que a mãe nos levasse à Igreja São Pelegrino, o templo dos demônios, com suas forcas e chifres pintados no teto.  
Uma coisa que me dava muito prazer, era na vila, ali onde o avô materno tinha construído uma pousada. De frente para a rua principal, podia espiar o mundo que corria lá fora. Tudo era interessante, por mais simples que fosse. O amplo casarão, tinha as suas novidades como a patente e uma máquina especial para retirar do poço a água bem geladinha.    
Mas, passados 11 anos, como tantos outros da Serra Italiana, a única forma de avançar nos estudos era ir para outras cidades. Vamos esquecer aquela inocente e interessante vida agrícola e passar pelo mundo do estudo, do trabalho e viver numa cidade.
E que evolução a nossa geração pode ver, nestes mais de 70 anos. Da máquina de escrever ao computador, da mula ao avião, a lua de sonhos, invadida pelos homens nas suas viagens espaciais, do trem, dos grandes navios, do crescimento das cidades... E o que dizer do gravador, da TV, do fax, do telefone, do celular, da internet, do xerox, da impressora caseira, e a variedade de alimentos incorporados às nossas mesas.
Obrigado Senhor por 73 outonos, ultrapassando primaveras, verões e invernos e agora podendo viver o outono da vida.  
Meus votos de uma feliz e santa Páscoa! 

Me permito, por fim, emocionado, enaltecer a figura de Lourenço Castellan, pela profícua vida compartilhada, alegria de viver e pelas experiências que frutificaram em copiosas iniciativas. Descanse em paz amigo.