Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Diman toca ndar al molin!

De manhã, levantar cedo, tomar um café e fazer um pacote com pão, salame e queijo para levar junto

Dada a ordem, no dia anterior, era necessário preparar os sacos com trigo, milho e arroz. O mais complicado é o milho que tem que ser descascado e debulhado. Feliz era a família que dispunha de um debulhador manual. Uma nona disse que depois de inventar um, o homem não precisaria mais criar nada! Imagina.
Outra preocupação era fazer uma revisão nas ferraduras das duas mulas, a estrada não era muito longa, mas com o peso dos alimentos e dos condutores, sempre é bom prevenir. Não entendia como se pode colocar pregos na pata dos muares e eles não sentirem dor?
De manhã, levantar cedo, tomar um café e fazer um pacote com pão, salame e queijo para levar junto. As mulas já estavam prontas com as selas e também com um “sotto coa”, porque a estrada tinha muitas descidas rumo ao Rio Tega. Os sacos distribuídos com milho (mais pesado) e a outra com trigo e um pouco de arroz para descascar. O destino Moinho dos Lodi, na divisa Otávio Rocha/Mato Perso.  
 Acompanhado de um irmão mais velho, como residíamos perto de Santa Justina, até o moinho eram em torno de 7 km. Devagarzinho, as mulas caminhavam em uma pequena estrada, em meio a mata virgem, em uma área totalmente desabitada. Depois de uma hora, atravessar a “ponte coberta” sobre o Rio Tega, ou Caxias, era uma emoção. À direita, se chegava ao moinho, uma bela e alta construção em madeira, de três andares, e uma roda d’água,  movimentava o moinho, em suas diversas atividades, moer o trigo e o milho, e descascar o arroz. 
O simpático “moliner” vinha nos acolher e ajudar a retirar os sacos, e dizia que tinha que esperar um tempo, porque era em ordem de chegada.
Então, com um anzol e minhocas, nós íamos até o rio e se pegava diversos tipos de peixes. Em meio à mata, se aproveitava também para comer o lanche de pão, salame e queijo, e as deliciosas bergamotas, conforme a época do ano. Ali perto do moinho tinham diversos chiqueiros, com porcos, a coisa mais linda! Gordos, quase não conseguiam mais se levantar. Lá em casa, os nossos porcos, pobrezinhos, eram tão magros que se via até as costelas.
Enfim, o moliner nos avisa que estavam prontas as farinhas e o arroz. Hora de pagar o serviço e tomar o rumo de casa. Se levava junto os peixinhos, que à noite eram apreciados com uma nova e bela polenta.
Quem poderia imaginar, que passadas duas gerações, no porão da casa, pendurados queijos, salames e copas, lardos e ossos no sal, ovos guardados no meio do cal, pipas cheias de vinho, no sótão um saco grande de açúcar e um de sal. Na “cozineta”, caixas com farinhas de trigo e milho. No entorno,  vacas, galinhas, porcos, ovelhas, pombas, açudes com peixes. Bendito Brasil que acolheu os imigrantes numa época de várias mudanças – Império, libertação dos escravos, República e Unificação Italiana. Ufa!