Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

Con el fredo e anca la brina, el fogon lera el centro de tutto

As caras amargas de maio e junho me fazem lembrar de outros invernos, que pareciam eternos, em tempos de colônia

As caras amargas de maio e junho me fazem lembrar de outros invernos, que pareciam eternos, em tempos de colônia.  
Até parece ouvir, “mas hoje em dia, não se faz mais frio como antigamente”! O fogão era o centro de tudo, e aquela caixa de madeira, com lenha, era disputada para sentar e aquecer-se. De noite, antes da reza do terço, ficava rodeado da numerosa família. O fogão sempre teve o seu valor, imaginando aquelas comidas boas, o pudim no final de semana, o pinhão na chapa, a batata doce no forno e, ainda, cozinhar uma espiga de milho com garfo no fogo direto. 
É tradição da colônia italiana ter duas construções: uma mais focada nas atividades diárias e a outra com cantina e dormitórios. Tudo isso, para salvar uma das casas em caso de incêndio em uma delas. Era ainda como consequência do fogo de chão e panelas penduradas no teto com correntes. Em tempo de inverno, era a época que mais incomodava a passagem de uma casa para a outra, quando se tinha que atravessar uns 15 metros, às vezes já com geada. Pés descalços ou nas costas dos irmãos mais velhos, da cozinha quentinha partia-se para os dormitórios frios, mas muito frios.Os pelegos e capas de chuva daquelas que se usava para andar a cavalo, olha, parecia que havia uma disputa para contar com estes reforços.  
Como a casa era construída com largas tábuas, entre uma e outra era pregada uma pequena tabuinha. Mas, com os temporais e os ventos minuanos, o frio penetrava pelas frestas. Havia ainda alguns quartos que não viam o sol, nem no inverno e nem no verão. Ali o frio se mostrava mais frio. 
Ao levantar de manhã, via-se as flores cobertas com panos para serem salvas, pareciam pequenos monstrinhos vestidos de branco. Em torno do fogão já em chamas, tomar o café, preparar a merenda e dirigir-se à escola. Às vezes até pergunto, “mas era verdade que a gente ia para a escola com os pés descalços”? Sim, era verdade, tempos longe dos tamancos, das alpargatas, das chinelas... como viria bem os chinelos de dedo, pelo menos, invenção após a chegada do plástico.  
Já passados tantos anos, sinto ainda o uivar do vento, sinto pena dos cães soltos, das vacas e ovelhas cobertas de um branco bonito, mas, a cada ano, sem noção, chegava o tal de inverno. 
A nossa geração foi formada, na convivência com o tempo, com os ventos, com o andar do cavalo, com as comidas fortes, os caldos, o vinho, a graspa, conforme se ia crescendo. Descobrimos mais recentemente, que o frio é um santo remédio, em especial para os vinhedos e plantações de maçãs, bendito ele então que nos trará grandes safras, daquilo que nossa gente mais sabe trabalhar: cuidar da uva e fazer o vinho. Saudade...
A primavera estará logo ali!