A emancipação de Nova Trento escapou por um fio: 100 anos da revolução de 1923

O ano de 1923 foi marcado pela briga entre os Assissistas e Borgistas no RS. O primeiro grupo, a oposição, era formado pelos dissidentes do PRR, antigos Federalistas, Maragatos - laços vermelhos - reunidos sob a liderança de Joaquim Francisco de Assis Brasil. O segundo grupo, composto por Chimangos (antigos pica-paus) - laço verde - era liderados por Antônio Augusto Borges de Medeiros, que governou o estado por mais de 20 anos (quatro vezes) e fora eleito para mais um mandato.  
A revolução durou quase um ano e foram perdidas mais de mil vidas. O fim do conflito aconteceu no castelo de Pedras Altas, com a assinatura de um Pacto da Paz, em 14 de dezembro de 1923. Nele constava a não reeleição de Borges, ainda mais, com o voto secreto. 
 
Origem
A Revolução de 1923 iniciou devido a vitória de Borges de Medeiros, em 25 de novembro de 1922. Enquanto se apuravam as urnas,  o Correio do Povo de 3/12/1922, noticiava as comemorações em Caxias pela vitória de Assis Brasil. (grafia da época) “Numerosa massa popular accoreu ao local onde, sabedores do resultado, improvisaram uma manifestação de regosijo, tendo sido queimadas várias gyrandolas de foguetes, bombas, etc... tendo repicado os sinos das egrejas. Pelo mesmo motivo varias casas comerciaes e estabelecimentos fabris dispensaram os seus funccionarios”.  
O resultado das eleições foi muito contestado, mesmo assim, Borges de Medeiros assumiu o governo no dia 25 de janeiro de 1923, para o quinquênio 1923 a 1928. Tal fato foi amplamente contestado pelo candidato “derrotado”, Assis Brasil, nascendo a turbulência política que coloca o Rio Grande dividido, cujo objetivo central era a deposição do recém empossado. 
Borges de Medeiros tinha o apoio da Brigada Militar, em todos os municípios, enquanto Assis Brasil agrupa os seus defensores, em uma guerra que passa por diversas regiões do Estado, com mortos e feridos. 

“...a revolução de 1923 conturbou a vida pacata da paróquia N.S. de Lourdes. Entre Borgistas, entrincheirados na vila, e Assisistas, amoitados na periferia da vila, houve violentos tiroteios. Seguiram-se diversas escaramuças e entreveros...
O movimento de contestação do resultado das eleições atingiu o Governo Federal, estabelecido no Rio de Janeiro, que não conseguiu pacificar as partes antes das lutas travadas. Os Borgistas, ou situacionistas, contavam com 12 mil homens, 2,1 mil deles da Brigada Militar. Os principais apoiadores eram José Antônio Flores da Cunha, Dr. Otávio Rocha, Getúlio Vargas e Osvaldo Aranha. Borges de Medeiros era da linha política de Júlio de Castilhos.
Os Assissistas, chamados de revolucionários estavam armados de maneira precária. Estavam divididos em cinco regiões, com 700 a 1,8 mil homens. O principal apoiador era Batista Luzardo.  
A guerra civil prolongou-se até 14 de dezembro do mesmo ano, quando foi assinado o Pacto de Pedras Altas, retificado no dia seguinte, pelo Presidente Borges de Medeiros, no Palácio Piratini."
Texto em: A Igreja nas Colônias Italianas

Em Nova Trento...

Nova Trento, em 14/10/1923, que era guarnecida por apoiadores de Assis Brasil, foi invadida por um grupo de Borgistas, travando combate junto ao quartel, abatendo Antônio Scur, atingido no coração, e Quintino Biazus, ferido, veio a falecer em Caxias, dias depois. Os Assissistas derrotaram os Borgistas que se retiraram, apanhando diversas mulas e cavalos que estavam na praça, de pessoas da colônia que tinham vindo à missa. 
Antes de chegarem a Nova Trento, houve um famoso embate junto ao Passo do Zeferino, com diversas pessoas falecidas, segundo nos relata o historiador Claudino Antônio Boscato. 

“...caíram por terra as promessas de emancipação. Foi então que Joaquim Mascarello fora ao Palácio dizer ao Governador Borges de Medeiros, que se retiraria da política. Veio a campanha eleitoral de 1924 e Assis Brasil foi calorosamente recepcionado em Nova Trento. B. de Medeiros mandou chamar Joaquim e lhe disse que, se fizesse a mesma campanha em favor dele, se ganhasse as eleições em Nova Trento, daria a emancipação (...) Terminadas as eleições, a promessa da emancipação política foi cumprida por Borges.” 

Domingos Tyburski/1979/Notas Prévias para a História de Flores da Cunha

Morte de Quintino Biazus: o trentino foi gravemente ferido em 14/10/1923, num combate em Nova Trento pelos Borgistas. Veio a falecer em Caxias, merecendo grande homenagem durante o enterro, pois os caxienses eram Assissistas.