Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

- Via de quà, và a s’cioss!

Os Vênetos trouxeram para o Brasil, algo que está impregnado no nosso DNA: tem que trabalhar

Os Vênetos trouxeram para o Brasil, algo que está impregnado no nosso DNA: tem que trabalhar. Imagine ir passear, imagine ir almoçar num restaurante às 14 horas, imagine ficar caminhando nas ruas! Quem vai dar comida para toda essa gente?  
Se não trabalhar, pelo menos deixe trabalhar quem pode e precisa. Por isso a expressão “Vá à s-cioss!”, “Vai pegar caramujo!”, em português, era certa para aqueles que importunavam.
Qualquer motivo, lá vinha: “Và à s-cioss!”. Seria hoje como dizer, “vá plantar batatas”, “vá pentear macacos!...” 
Mas a ordem tão estranha na minha infância, na praticidade, no caminho para a escola, passava a ser também uma ordem de trabalho. Especialmente, quando chovia, na beirada das estradas, lá estavam uns belos caramujos. A querida vizinha Pina Marcon (origem São Marcos) Trentin nos orientava para pegar os caramujos em troca de algumas moedas. Depois de um longo mês fechados em caixas, comendo farelo de milho, eram preparados para a alimentação. Eu nunca comi. Quem poderia imaginar que na França e em outros lugares do mundo, o desprezado caramujo era fino prato, presente nos mais requintados restaurantes: “escargot”.  
Agora já sabe, se alguém falar “Và à s-cioss!” tá na hora de ir circulando.  
Mas, outro divertimento que era agradável, era ir pegar caranguejo pelos pequenos riachos coloniais. Geralmente a mãe matava uma galinha no sábado e aí ela nos dava os intestinos, que eram muito práticos para ir pegar caranguejo. Quando não tinha os intestinos, utilizávamos minhocas. Com um anzol ou até com um galho, amarrados os intestinos, os caranguejos se grudavam e era só puxar para fora e colocar, numa espécie de cuia de abóbora.  
Antes de chegar em casa, mesmo no rio, se fazia a limpeza deles, dando uma forçada na barriga e lavando-os.  
Ao chegar à noite, uma boa frigideira com banha bem quente, atiravam-se os caranguejos e, como era bom comê-los com polenta mole ou também brustolada. Creio que fazem anos que não se acham mais caranguejos. Será que comemos toda a raça  ou a natureza perdeu a “forma” para recriá-los.   
Mas que eram bons, bem vermelhos, é a verdade! 
Você também pegou e comeu caranguejos e por acaso ajuntastes caramujos?