Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

“Trenta sei giorni di macchina e vapore”

Fiquei impressionado com os mínimos detalhes da viagem marítima, como li nestes dias em “Varrendo a Saudade”, de Carlos R. Hackmann

Fiquei impressionado com os mínimos detalhes da viagem marítima, como li nestes dias em “Varrendo a Saudade”, de Carlos R. Hackmann, e do sofrimento dos imigrantes que partiram rumo ao Brasil. 
Imaginemos mais de 1.500 pessoas, num navio, tendo que oferecer diariamente duas refeições e o café da manhã. Eram servidas carnes (vacas, porcos, galinhas e ovelhas). Até aí tudo bem, mas eram levadas vivas dentro do navio, e todos os dias sacrificadas. 
O navio “Brasile”, é o caso que vos conto, tinha a 1ª e a 2ª classe. Os mais de 1.500 imigrantes, nos andares inferiores, separados por homens, senhoras e crianças, com a instalação de beliches, em dormitórios coletivos. Pequenos espaços superiores, ao ar livre, permitiam apanhar o sol, respirar o ar puro e admirar o mar. 
Mas com todo o batalhão de viajantes, pensemos nas instalações sanitárias. O navio apresentava um vaso para cada oito pessoas, e para tomar banho mais dificuldades ainda. Conforme o balanço do navio, havia ainda a questão dos enjoos. Um cheiro insuportável percorria os andares inferiores, fruto dos animais vivos ali presos e da falta de limpeza dos sanitários. Some a tudo isso a chegada de doenças contagiosas. 
Os dias passavam... Devido as condições favoráveis, o navio chegou em 27 dias. A cidade do Rio de Janeiro mostrou a organização do Brasil para receber os imigrantes. Boas acomodações, refeições fartas... É interessante destacar que, no final dos anos de 1900, praticamente não havia mais terras para serem vendidas aos imigrantes no sul do Brasil, e tanto o governo do Brasil como o da Itália cortaram o pagamento das passagens marítimas. Mas os grandes produtores de café de São Paulo, unidos, se ofereceram para arcar com estas despesas. Todavia, os imigrantes tinham que ir trabalhar nos cafezais e a passagem era paga por eles em prestações. 
Saudemos os nossos antepassados. Pouco se soube sobre os grandes sacrifícios que tiveram, mas a esperança de terem terras como “suas”, os animou a enfrentar a grande travessia.