Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

‘Te si pi vècio che el campanil de Noa Trento!’

Abro o livro da minha vida para me apresentar, honrando o convite do Jornal O Florense para, aqui, partilhar e relembrar aos meus, as histórias de um tempo tão curto, mas que nos apresentou o maior e mais rápido desenvolvimento da humanidade

Quando nasci, em abril de 1949, antes, portanto, da inauguração da nossa famosa Torre de 30 de outubro de 1949, minha vida estava bem envolta com Flores da Cunha. Nascido no interior de Otávio Rocha, na ‘bussada’, meus pais me deram o nome de Floriano, em homenagem ao frei com o mesmo nome que atendia a capela de São Marcos. Tal iniciativa mereceu, por parte do frei Eugênio, frei Agostinho, frei Ricardo e outros, uma intensa simpatia.

No vale que me acolheu, moravam seis famílias. Imaginem o isolamento, longe de estradas, sem luz, rádio e tudo mais. Nas noites alimentadas de lampiões, rezar o terço, comer pinhões e batatas doces, fazer dressa, ver a mãe remendar roupa e nós, os pequenos, deitados no chão. A espera para a cama dependia da travessia da cozinha para a casa dormitório, longe uns 15 metros ao lado. No inverno, pelegos, capas de chuva, tudo para aquecer.

Os dias ali marcados pelos dialeto Vicentin (de Vicenza) eram de dar comida aos porcos, tirar leite das vacas, apalpar as galinhas, dar comida aos coelhos. A única oportunidade de ouvir algo em Português era o sermão na missa na capela. Até o latim eu achava que era italiano. Levar a mula para arar, puxar as borrachas para o sulfato, ir ao moinho, capinar no meio do milho, descascar e debulhar o milho. A mesa farta era fruto do trabalho familiar. Aos sete anos. na escola, a luta entre o Vicentin e o Português, alfabetização, ditado, tabuada.

Com onze anos uma pequena mala me levou para o mundo. Abandonar tudo e todos, deixando um balde de saudade no meu vale, e descobrir que havia muita coisa nova para olhar além das montanhas que isolavam a baixada. O tempo passou rápido. Um dia, em fevereiro de 2013, levado por vários fatores, mas também por uma imprudência, medi quatro metros, mergulhando comigo o escapulário e a medalha milagrosa: vivo.

Minhas iniciativas e minhas viagens prejudicadas, mas a nova oportunidade me fez mergulhar num outro mundo dos mistérios da tecnologia. Da extraordinária máquina de debulhar milho, lá da minha infância, ao computador e de todos os seus parentes. O milênio novo me permite viajar por outros mundos, conectar-me, conhecer e ter centenas de amigos.

Assim, abro o livro da minha vida para me apresentar, honrando o convite do Jornal O Florense para, aqui, partilhar e relembrar aos meus, as histórias de um tempo tão curto, mas que nos apresentou o maior e mais rápido desenvolvimento da humanidade.