Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

“Nene, ndemo su far comare la della fameia Schio!”

Nene (meu apelido) vamos ‘fazer de comadre’ lá na família Schio!

A pandemia veio acrescentar  ainda mais a solidão que se espalhava no nascer do novo milênio, do isolamento entre as pessoas. A oferta farta de telefones fixos e depois os celulares, de veículos, somada à violência nos mais diversos cenários, o aparecimento de mil outras atividades, serviu de pretexto para o encolhimento e a solidão.
Voltando lá ao passado, na longínqua infância, era a convivência em numerosas famílias, entre os vizinhos e, ainda, a recepção acolhedora dos parentes que tinham ido morar em outros municípios. O que era comum, também aos domingos de tarde, a mãe convidava para ir junto ‘fazer de comadre’, uma expressão no dialeto, diria mais bonito, ‘far de comare’. Era a oportunidade das senhoras vizinhas se encontrarem, sem aviso via telefone, e na convivência comentarem os avanços da família, as plantações e as novidades. Ainda mais quando este encontro era com a senhora Luisa Michelon Schio, parteira de mão cheia, e que deve ter ajudado a vir ao mundo dezenas de crianças nos anos de 1940 e 1950. Uma cesta (sporta), com alguma coisa tipo ovos, cuca ou biscoitos recém feitos, alguma fruta e lá eu ia junto com a mãe, até o que hoje conhecemos como Casarão dos Veronese. Um abraço afetuoso e o convite para entrarmos, sentar no entorno de uma mesa para conversar e, ainda, tomar um gostoso café da tarde daqueles tempos de fartura de pães, cucas, biscoitos, salame, queijo, marmeladas, manteiga... E eu, como criança, brincava e caminhava com algum dos filhos da família Schio, e de sala em sala, quarto a quarto, descobria aquele fantástico casarão, nos seus segredos e surpresas. O sótão misterioso, ao lado ainda tinha a vinícola e logo fora a estrebaria das vacas, onde fazia parte da visita de ‘comare’ se for o caso, conhecer o último terneiro que tinha nascido e a quantidade de leite que a vaca estava dando.  
Como diria o saudoso poeta Padre Oscar Bertoldo: “O mundo mudou demais”. E ele nem tinha vivido a pandemia do coronavírus, quando os abraços, as visitas, as festas, as reuniões foram suprimidas da convivência entre familiares, vizinhos e comunidade. 
Que tristeza para o idoso, que foi criança feliz, nos tempos de ‘ndar a comare’, ver agora que no poente da vida, estar o mundo nesta situação. Alguém um dia terá que pagar, não sei como, por tanta desgraça aplicada à humanidade. Cada dia mais lágrimas de tantos amigos que se vão...