Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

“Mi vui dir: prima el pan e dopo el studio! Con panse vode no se impara ghente, sol la desesperassion e malatie!”

Aproximando datas tão caras, como o dia 25, do Colono e Motorista, e 26, dia dos Avós, no olhar dos meus mais de 70 anos, me parece ouvir diariamente a palavra “che vol laorar” – precisa trabalhar

Aproximando datas tão caras, como o dia 25, do Colono e Motorista, e 26, dia dos Avós, no olhar dos meus mais de 70 anos, me parece ouvir diariamente a palavra “che vol laorar” – precisa trabalhar. Nos versos do poeta caxiense Balén, ele sintetiza: primeiro o pão e depois o estudo. Já tinha ouvido falar, também em “antes a enxada e depois o lápis”. As gerações que nos antecederam, lançadas no meio da mata virgem, viviam pelo trabalho, e criaram um calendário de serviços, antecedendo a uma estação italiana. Agora, na Itália, é o forte do verão e nós estamos no forte do inverno.  
A entrada do frio era época de semear o trigo e o arroz. Nos parreirais arrumar “le stangue”, uma espécie de barrote, que segurava as parreiras, pois ainda não tinha o ferro. Cortar as vimes, separar as pequenas para amarrar os galhos e as grandes para futuramente descascar ou deixar para fazer as cestas. Depois, podar as parreiras e amarrar os galhos. No inverno também era hora de limpar os potreiros, fazer o adubo verde para espalhar nos parreirais. 
A primavera despontava com a explosão de verdes e flores. As parreiras chamavam para sulfatar (cal e sulfato de cobre), inicialmente numa máquina que ia nas costas, após uma espécie de carrinho de mão, com um tanquinho e a sulfatagem com mangueiras, depois vieram os motores. Os trigais se apresentavam verdes e belos, e na horta era hora de semear os pepinos, tomates, vagens... E na roça semear melões e melancias, abóboras, entre outros.  
A chegada do verão, época de fazer o pasto para as vacas, cortar o trigo com uma foicinha e guardar na estrebaria, esperando a vinda da máquina de “bater el formento”. Dia de alegria, pois comia-se bem e se sabia se iria ser um ano de muitos pães e massas...   
O cuidado com as parreiras, dar o sulfato, vestiam roupas usadas para se proteger, e vinagre ou laranjas lavavam as mãos do sulfato de cobre. O plantio do milho exigia, naquela época, o corte de mato para fazer novas roças, as cinzas eram uma espécie de adubo natural. Essas maiores atividades eram entremeadas de capina embaixo dos parreirais e, depois, entre os pés de milho. E levar a mula para o trabalho do arado tão importante.  
Passam as festas natalinas com as bem-vindas famílias de parentes que moravam mais longe e é hora de preparar as cestas para a colheita da uva e os chamados cestéis (cestinhas que iam penduradas no pescoço para a vindima).  
A época da colheita era uma das mais festivas. Vinham os vizinhos e parentes ajudar e também se trocavam serviços entre os vizinhos na alternância da colheita. A uva já era entregue numa cooperativa, mas a família, na primeira geração, teve pequena vinícola e também fazia a graspa. Cestas, carretas, bigunchos, caminhões... tudo tem perfume de lembranças, de uvas maduras, de fartas comidas em família e auxiliares. E os cantos alegres se espalhavam pelos vales... 
Os festejados, Colonos, Motoristas e Avós, se entrelaçam entre as atividades e afeições. Os saudamos pelos seus trabalhos e exemplos. Obrigado Senhor e continue a abençoá-los!