Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

- Mamma de-me um calceto par nantri far unna bola?

Uma criança no interior começa a ter lembranças de quando tinha de 4 a 5 anos de vida...

Uma criança no interior começa a ter lembranças de quando tinha de 4 a 5 anos de vida. As famílias mantinham a preocupação de motivar para o trabalho. Não importa a idade, era necessário começar a colaborar para poder comer. Mas, independente de tal motivação, também era preciso ir à escola, aprender o catecismo, fazer a primeira comunhão... e trabalhar. Sobrava ainda um variado tempo para brincar. Expressões mais recentes dizem que “a criança precisa brincar”, e, às vezes, afasta ela até dos pequenos serviços, chegando até a passagem da infância para a juventude sem muitos compromissos.  
À minha lembrança vêm os jogos que podiam ser realizados dentro de casa. Quem não lembra do jogo de “se esconder”. As amplas casas com seus quartos, sala, sótão, varanda, permitiam que um, encostado numa parede, fosse contando os números e, depois, saia a procura. Tinha um jogo que se chamava “esponcha culo”, quando alguém passava no meio de um grupo de crianças sentadas e, todos com os dedos, ia espetando. Fora ou dentro tinha o jogo das “5 Ave Marias”, umas pedrinhas que eram jogadas sobre a mão e valia pontos a soma daquelas que ficavam em cima. Num espaço sem grama, podia-se desenhar uns quadros para o jogo do “pisei”, em que a pessoa ia pulando sobre os desenhos. Jogo muito interessante era o caçador: dois grupos, um no centro da roda, e dos lados outros que formavam o segundo grupo, atiravam uma bola, se batesse, era eliminado. Tinha ainda o jogo da “bolita”, com uma bolinha de vidro. E interessante era também pular a corda.  
- “Mãe, tu tens uma meia velha para nós fazermos uma bola?”. E assim foram as minhas primeiras experiências com o futebol. Não havia o plástico e as bolas de couro, eram caras. Assim, uma meia, cheia de trapos, servia para a diversão, em especial, em casa onde havia um lugar plano, e era produzida a grama para o pasto.  
Lembrar dos carrinhos de lomba, do arco de uma bordalesa, que era empurrado com um ferro torto e com um pau, dos banhos de rio, das caçadas com fundas... Me lembro ainda de caminhões feitos com barro e as divertidas ações para ir pescar caranguejo. Havia uma maliciosa aventura de invadir roças alheias para comer melancias... 
Em noite de filó, se existisse a lua cheia, eram realizados jogos ao ar livre, deixando os adultos livres para suas conversas, homens ao redor de uma mesa e as mulheres ao redor do fogão. 
Até a “cariola” servia para a diversão, quando havia um mais reforçado. De repente, jogava a criança para o lado. Não eram muitas as diversidades de jogos infantis, num momento em que ainda não havia o plástico, com todas as suas utilidades, transformadas em milhares de diferentes brinquedos.  
As atividades, em especial as envolvidas com os animais caseiros, eram, de certa forma. também muito agradáveis. Pensou em levar umas espigas para o porco no chiqueiro. Dar milho para as galinhas ali perto das casas. Dar ervas para os coelhos, um pedaço de polenta para o cão... O contentamento dos animais, servia até como um agradável brinquedo.  
Então, quando se fala da exploração da criança, embora a preocupação ao trabalho, nós tínhamos a possibilidade de nos divertir e de auxiliar a família.  
Para encerrar as atividades dos jogos, como era gostoso subir nos altos pés de ameixeiras e, ali papeando, comer das doces ameixas! Ficou a saudade! 
Fechamos esta página de mais de 60 anos e vamos ver, hoje, os pequenos com poucos meses já percebendo a pequena luz que acende no computador, depois querer mexer no celular e, aí, todas as novidades que o modernismo nos apresenta. 
Será que sentirão saudades da sua infância?