Floriano Molon

Floriano Molon

Lembranças

Floriano Molon é natural do distrito florense de Otávio Rocha, nascido em 11 de abril de 1949. Foi professor primário, funcionário público estadual e federal, hoje aposentado, bacharel em Direito e pesquisador da imigração italiana. Tem 12 livros publicados e participou em diversas outras publicações. Como promotor de eventos, foi presidente de algumas edições da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) e outras festas, bem como presidente de diversas Associações. Recebeu o título de ‘Cidadão de Mérito de Flores da Cunha’, além do Troféu Grazie, esta última do Jornal O Florense. 

Contatos

- Femmo i agnolini par la domenega de Pasqua!

- Vamos fazer os agnolini para o domingo de Páscoa!

Diante de tantas notícias tristes, a memória busca também nas suas lembranças guardadas ao longo do tempo, das amizades, dos papos, das festas... convividas com alguns dos amigos que partiram tão dramaticamente. A humanidade nunca tinha se deparado com algo deste tipo: o mundo parou e teremos que reiniciar. Meus sentimentos e minhas orações. 
Espero que quanto tudo isso passar, vamos retomar nossas vidas e atividades, viver com alegria, mas, por enquanto, vamos nos esforçar para nos manter vivos.   
Logo ali, dia 4 de abril, será mais uma vez Páscoa. No passado, não tinha ela o sabor do Natal, mas também carregava consigo, uns dias reflexivos na semana santa, a cerimônia da crucificação, a procissão do Senhor Morto e finalmente a Missa da Ressurreição. 
Lá se vão mais de 60 anos, na casa de madeira, sem energia elétrica e sem refrigeração..., e a família separava o sábado santo, para fazer os agnolinis. De manhã, se matava os frangos, um para preparar o recheio e outro para  fazer o caldo (brodo) da sopa do domingo. Os agnolinis eram um prato especial, que praticamente, só eram servidos na Páscoa. A celebração relembrava a partida do povo judaico do Egito, para a terra prometida. Houve então, uma  ordem divina de sacrificar um cordeiro e passar o seu sangue nos umbrais das portas. Quem não o fez, passou pela tristíssima perda dos meninos primogênitos.  
A tradição passou pelos tempos e comer o cordeiro na passagem da Páscoa judaica era uma santa obrigação. Uma festa que foi também assumida pelo Cristianismo, lembrando a figura do “Cordeiro Pasqual”.  
Na fé cristã surgiu o nome latino de  Agnus Deus, traduzido para o Cordeiro de Deus. No italiano, o cordeiro passa a ser chamar “agnello”. A expressão em forma de massa, vira “agnollini” e se transforma no prato principal do domingo de Páscoa nas regiões italianas. Enquanto o mundo aprecia as  carnes de cordeiro para o almoço.  
Daí que se conta que originalmente o agnolini, nas regiões mais ao norte da Itália, eram feitos com o recheio utilizando carnes de cordeiro. Tem que se levar em conta que era nesta região onde haviam grandes criações de ovelhas, e ainda as numerosas e grandes fábricas com a utilização da matéria prima: a lã.
A questão do outro nome, Cappeletti, também do ponto de vista bíblico, representaria a mitra (o chapéu) do Bispo. 
Possivelmente, até quando partiram os imigrantes pelos anos de 1875 em diante, já na Itália usavam carnes de frango ou gado, mas aqui no Brasil, quando se fala de carne de cordeiro, todos tem uma longa exclamação de surpresa.
Igrejas fechadas, cerimônias belíssimas e motivadoras suspensas, que triste Páscoa, que nos aplicou o nosso mundial corona. No silêncio das casas, na pequena reunião familiar, levantemos os olhos aos céus e oremos pelos que nos deixaram, e agradecer pois ainda estamos vivos. Cristo Ressuscitado nos abençoe!