Muito próximo a 1924, o pequeno povoado era cenário também da revolução de 1923, que manchou de sangue as terras gaúchas

A história de Flores da Cunha, que celebra os seus 95 anos de emancipação, foi permeada de lutas e conquistas. Muito próximo a 1924, o pequeno povoado era cenário também da revolução de 1923, que manchou de sangue as terras gaúchas. Os Borgistas ou ‘situacionistas’ de Borges de Medeiros, chamados também de chimangos, e os Assisistas de Assis Brasil, os maragatos, se enfrentavam pelas ruas, com tiros, fugas e mortes. 
Onde quer que acampassem ou passassem, tanto uns como outros, sob o pretexto de tirar o recurso do inimigo, destruíam tudo, fazendo uma verdadeira limpa de cavalos, vacas, armas, munições, arreios para animais, capas e toda a espécie de comidas. Isto quando não levavam até vestidos de senhoras. Chegavam os Assisistas, os partidários deviam ajudar e os contrários eram tratados como tais. Vinham depois os Borgistas, que faziam tudo pela ordem e, entretanto, levavam embora o resto sob a mesma alegação.
No dia 11 de fevereiro de 1923, antes da posse de Borges, a oposição deflagrou a revolta, suscitando manifestações em todos os municípios do Estado. E em Nova Trento, a população estava dividida. Alguns eram Borgistas e outros eram Assisistas. No entanto, o lugarejo foi ocupado pelos dois grupos. Durante as invasões, ambos agiam de forma desumana, entravam nas casas e quebravam tudo, perseguiam pessoas e, quando as encontravam, prendiam-nas e sumiam e nunca mais apareciam. Relatos de Freis Capuchinhos estabelecidos em Nova Trento apontam: “a revolução de 1923 conturbou a vida pacata da Paróquia. Entre Borgistas, entrincheirados na vila, e Assisistas, amoitados na periferia da vila, houve violentos tiroteiros. Seguiram-se diversas escaramuças e entreveros no chamado Passo do Zeferino.”
Finalmente, pelo mês de outubro de 1923, os simpatizantes de Assis Brasil colocaram em fuga os Borgistas e libertaram o povoado de Nova Trento. No Estado foram 10 meses de revolução, até que o Presidente da República interveio através do Exército, determinando a assinatura da paz conhecida até hoje por Tratado de Pedras Altas.
Veio a campanha eleitoral de 1924, e Assis Brasil foi calorosamente recepcionado em Nova Trento. Borges de Medeiros, o outro candidato, mandou chamar Joaquim Mascarello e lhe disse que, se fizesse a mesma campanha em favor dele e se ganhasse as eleições em Nova Trento, daria a emancipação. Para auxiliá-lo na campanha, veio o Dr. Octavio Rocha, que permaneceu aqui três meses. Em 3 de maio foram realizadas as eleições no Estado, e em Caxias ganhou disparado Assis Brasil e Borges de Medeiros foi vitorioso em solo trentino. No dia 17 do mesmo mês de maio, Borges de Medeiros cumpriu a promessa e assina a emancipação sendo que, na época, não era necessário se fazer plebiscito. Pode-se dizer que a emancipação, além de ser muito ansiada pela gente de Nova Trento, teve muito de caráter punitivo. Foi uma represália política à forte oposição do município de Caxias, que teve parte de suas terras separadas para formar uma nova comuna.
 O Assis Brasil que libertou Nova Trento dos Borgistas, pela jogada política de Borges dando a emancipação, acabou sendo esquecido pelos trentinos. Uma das figuras mais importantes da política gaúcha, Assis Brasil não mereceu nenhuma designação em rua ou estrada de Flores da Cunha. Borges de Medeiros e Júlio de Castilhos se encontram em importante cruzamento da nova Flores da Cunha. E os Assisistas, que eram maioria, tiveram que engolir em seco a jogada certeira de Borges a favor da emancipação. Parabéns Flores da Cunha!