Flávio Luís Ferrarini - In Memoriam

Flávio Luís Ferrarini - In Memoriam

Flávio Ferrarini

In memorian

Natural de Nova Pádua, Flávio Luís Ferrarini mudou ainda adolescente para Flores da Cunha (RS), onde fixou residência. Era publicitário e colunista dos jornais O Florense – desde seu início, em 1988 – e Semanário, de Bento Gonçalves. Além disso, Ferrarini, colaborava com vários sites literários.

Entre seus reconhecimentos, está o empréstimo de seu nome à Biblioteca Pública Municipal de Nova Pádua e ter sido escolhido Patrono da 30ª Feira do Livro de Flores da Cunha.

Suas obras mereceram artigos elogiosos, como o de José Paulo Paes, ensaísta, poeta e tradutor brasileiro. Ferrarini acumulou resenhas entusiastas em importantes publicações literárias do Brasil.

Flávio Luís Ferrarini publicou seu primeiro livro individual em 1985, abrindo uma série de dezessete obras, nos gêneros de contos, crônicas, poesia, poesia em prosa, novela e narrativas infanto-juvenis. O colunista morreu em um acidente de trânsito em 16 de junho de 2015. Suas crônicas permanecem no site como forma de homenagem póstuma.

 

Contatos

Todas as minhas Copas

Em 2010 eu estava trabalhando tanto que mal assisti aos jogos da Copa. Eu andava com um carrinho de mão e todo mundo colocava pedras para eu carregar

Em 2010 eu estava trabalhando tanto que mal assisti aos jogos da Copa. Eu andava com um carrinho de mão e todo mundo colocava pedras para eu carregar. As urgências do dia a dia comiam-me o tempo todo. Mal vi a jabulani e as vuvuzelas da África do Sul. Recebi com a emoção de uma estátua de bronze a eliminação da nossa seleção comandada por Dunga.

A Copa de 2006 foi patética. O hexa entrou pelo cano justamente quando o craque Roberto Carlos foi arrumar a meia no momento em que a França cruzou para a área. Guardo desse Mundial a cabeçada de Zinedine Zidane no zagueiro italiano Materazzi.
Em 2002 eu mal tinha entrado na casa dos 40. Eu tinha algumas dúvidas se o Brasil seria penta e um monte de dívidas. Ronaldo foi o artilheiro e Cafu levantou o troféu do pentacampeonato, mas o que lembro em detalhes é do goleiro da Alemanha, Oliver Kahn, após o término da final, sentado, encostado em uma das traves, absolutamente inconsolável com a falha no primeiro gol em que ofereceu rebote do chute de Rivaldo nos pés de Ronaldo.

Ah, 1998. Eu estava feliz da vida com a minha poderosa XLX 250 preta. Uma máquina e tanto que me botava um sorriso no rosto toda vez que subia nela. Esse sorriso só se apagou com o carrasco Zinedine Zidane metendo dois gols na final contra a nossa contestada seleção, com o apagado Ronaldo em campo, após ter sido acometido por uma convulsão até hoje mal explicada no dia da final.

Em 1994 passei por uns perrengues sobre os quais não gosto de falar. Minha vida ficou por um fio, isso em razão desses erros médicos de diagnóstico. Muito embora Dunga, Romário, Bebeto e os demais companheiros tenham levantado a taça do tetra, não guardo festivas lembranças. Sequer me entusiasmou a cobrança totalmente desastrada do craque italiano Roberto Baggio que deu o tetracampeonato ao Brasil.
Em 1990 eu tinha acabado de mudar de emprego e de cidade e andava mais perdido do que o goleiro na hora do gol. Tudo o que lembro é que o Brasil jogou um futebol feio e a Argentina de Maradona e Caniggia mandaram nosso técnico Sebastião Lazaroni de volta para casa.

Em 1986 o cometa Halley, cercado de expectativas, ofereceu um espetáculo infinitamente menor que o proporcionado por Diego Armando Maradona. Maradona, o 10 e mais 10 companheiros em campo. Por falar em Deus, teve até ‘la mano de Dios’.
1982: Zico, Sócrates, Falcão e Toninho Cerezo jogaram um futebol bonito e vistoso, mas acabaram sendo vítimas de um acidente. Foram atropelados pelo carrasco italiano Paolo Rossi que fez o Brasil chorar lágrimas de esguicho.

Em 1978 eu cursava o segundo ano do ensino médio e navegava no oceano da fantasia. A Argentina jogou sua primeira Copa em casa e venceu, porém o título é muito contestado pelo jogo em que a Argentina de Fillol, Passarella, Kempes e Luque derrotaram o Peru por 6 x 0. Cláudio Coutinho disse que o Brasil foi o campeão moral nessa Copa. E foi mesmo.

Guardo apenas flashes da Copa de 1974 em que o Brasil vivia tempos duros da ditadura e eu vivia o começo da minha adolescência com os neurônios em guerra contra os hormônios.

A Copa de 1970 foi minha primeira Copa em preto e branco na TV da marca Colorado, cujas partidas eram transmitidas pelo pool nacional de televisão, formado por Globo, Tupi e REI. Eu tinha oito anos de idade, ainda usava calças curtas, mas já sabia de cor o nome dos comandados por Zagallo: Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Pelé, Tostão e Jairzinho. Vi o Estádio Azteca, no México, ficar pequeno na final quando a nossa seleção canarinho meteu 4 x 1 na azzurra. Tive a grande sorte de ver Pelé imobilizar sozinho 11 fortes italianos e encantar o mundo todo.