Sobre tudo e todos
Hoje, primeira quarta-feira de 2010, cheguei a triste conclusão de que estou ficando a mais idiota a cada dia.
Hoje, primeira quarta-feira de 2010, cheguei a triste conclusão de que estou ficando a mais idiota a cada dia. Claro que você já desconfiava desse meu lado idiota há bastante tempo, mas para o idiota demora um pouco mais a cair a ficha. E só mesmo um idiota por ainda recorrer a expressão "cair a ficha". Faz uma eternidade que os famigerados Orelhões públicos não usam mais fichas. Funcionam por meio de cartão, como a própria vida. Cartão e botões. Basta apertar um botão e passar o cartão para que a vida ande, a terra gire e todo mundo se ame de paixão. É óbvio que não sou um desses tipos de idiotas que lambem a tampa do iogurte, fumam charuto ou ficam olhando para o celular que não toca. Também não sou daqueles idiotas que quando você aponta para uma estrela, ele fica olhando para o seu dedo. Não sou, tampouco, idiota no sentido grego idiótes, o homem privado – em oposição ao homem de Estado, ou público; ou aquele ignorante em algum ofício, homem sem educação, ignorante, pelo latim idiota. Na acepção vulgar, idiota é a pessoa desprovida de inteligência, como o homem das cavernas, tentando descobrir se as pedras são ou não comestíveis. O meu caso é um pouco mais grave, como logo poderá concluir. Comecei a desconfiar que estava me tornando um perfeito idiota quando passei a emitir opinião sobre tudo, desde a ameaça de extinção da uva Pinot Noir na região francesa de Borgonha até o figurino de Michele Obama. E só mesmo um idiota por estar cheio de opiniões formadas sobre tudo e sobre todos. Percebi que a coisa estava ficando irreversível quando, em um bate papo informal com colegas, afirmei que dos tipos de pontes conhecidas, incluindo a de hidrogênio que interliga as moléculas de água e a da pobreza que liga um canino a outro, a mais importante ainda é a ponte da esperança que liga o hoje ao amanhã. Como resposta recebi o carimbo de idiota. E só um idiota para usar metáforas para explicar o inexplicável. As certezas de que sou um idiota não encontram meio de enfraquecer, ao contrário, ficam cada vez mais fortes. Pela manhã, defendi o livro físico em um e-mail para uma internauta. Escrevi que o livro nos ensina a pensar e aprender a pensar é ser livre. Falei sobre a solidão cibernética, uma fuga da realidade. Disse venenos dos fotlogs, blogs, twiter, sites de relacionamento, messenger... expor a vida para milhões de pessoas que sequer conhecemos... Ao invés de buscar auto-conhecimento, as pessoas estão preocupadas em dar-se a conhecer. Ao abrir a caixa do correio eletrônico, li a resposta: "Idiota". E só mesmo um idiota para tentar convencer as pessoas a se tornarem mantenedoras do livro impresso em papel. Pois ainda há pouco, ao desligar o telefone, disparei contra mim mesmo: "Que cara mais idiota:.. Imagine que usei "Vamos estar conversando" eu que sempre tive uma vontade incontrolável de levar ao paredão de fuzilamento todos que aderiram à praga do gerundismo. E só mesmo um idiota para engrossar a fila dos idiotas gerundistas. O golpe de misericórdia, tive-o há instantes. Motorista com o pisca do seu carro ligado. Educado, deixei-o entrar a minha frente. O motorista que vinha atrás de mim, afundou a mão na buzina, botou o cabeção para fora e vociferou, com toda a força dos seus pulmões: – Idiota...