Sempre a mãe...
O esconderijo abrigava uma espécie de confessionário que era para onde os grandes amigos Magricela e Montanha iam toda vez que enfrentavam algum problema um pouco mais espinhoso.
O esconderijo abrigava uma espécie de confessionário que era para onde os grandes amigos Magricela e Montanha iam toda vez que enfrentavam algum problema um pouco mais espinhoso.No mais recente encontro, Magricela confessa. Desta vez, o problema é a mãe dele.
– Acho que mamãe foi programada geneticamente para odiar som alto.
– Isso não é nada. Todas odeiam.
– Mamãe tem a mania de me acordar só para perguntar se eu estava dormindo.
– Isso não é nada.
– Acha que também não é nada, a mania dela de mostrar minha foto pelado como uma rã na frigideira e com cara de choro, quando eu era pequeno para a Pati?
– Não tem nada demais.
Pausa breve. O Magricela volta a soar a trombeta do desabafo:
– E o que me diz do medo de mamãe em virar avó antes do tempo?
– Isso não é nada. Todas escondem, de alguma maneira, esse medo idiota.
– E dela achar que sou um cachorro, hein?
– Cachorro?
– Pois é, mamãe só sabe falar: “Ande.. Espere... Saía... Quieto... Coma... Não se mexa”...
– Isso não é nada.
– Como não é nada?
– Nada demais.
Pausa. Magricela continua, um tom de voz acima:
– Mamãe vive dizendo que sou um fogão.
– Não entendi?
– Como o fogão que tem quatro bocas e nenhuma orelha.
– Isso não é nada.
O sorriso abre caminho pelas bochechas e chega às orelhas do Montanha.
Magricela com as bochechas vermelhas de irritação:
– Não é nada para você.
– Isso não é nada.
– Mamãe tem certeza de que sou a esperança levada ao extremo.
– Isso não é nada.
– Mamãe chegou ao cúmulo de por um alvo sobre o vaso do toalete, acredita numa coisa dessas?
– Isso não é nada. Todas vivem implicando pela falta de pontaria dos filhos.
Pausa longa. Magricela forrado de impaciência e raiva:
– Você não sabe falar outra coisa que ficar repetindo “Isso não é nada”?
– Claro que sei, mas para mim isso da sua mãe não é nada.
– Explique-se melhor!
– Olhe o meu tamanho... Olhe esse meu cavanhaque e tudo mais...
– Sim e daí?
– Minha mãe ainda me chama de “Meu bebê”.
– Meu Deus!?!
– Meu Deus, nada. Ela me chama de “Meu bebê” na frente de todo mundo.
Magricela arregala os olhos:
– Isso não é nada legal!