Remédios caseiros
Ainda ontem, ouvi um especialista em remédios caseiros...
Ainda ontem, ouvi um especialista em remédios caseiros que curam todos os males, receitar a um velho conhecido do tempo de escola:– Chá de cocô de cachorro, branquinho e bem sequinho, é bom contra hepatite.
Pensando bem, deixei de acreditar em remédios caseiros milagrosos há muitos anos, quando ainda molhava o colchão de palha de milho, em razão de um castigo mais duro e que os médicos chamam de enurese noturna.
Deixe-me contar como foi.
Num dia de triste lembrança, fui acometido pelo bicho-de-pé.
Para quem sabe ou não conhece, o bicho-de-pé é um inseto da família dos tungídeos que penetra a pele, em especial entre os dedos do pé, onde ela é mais fina, causando coceira e ulceração que pode servir como porta para infecções de agentes causadores do tétano.
De repente, meu pé começou a inchar. Mamãe logo recorreu a banhos de folhas de Elefhantopus scaber L, a popular língua-de-vaca. Não adiantou nada. Meu pé foi ficando cada vez mais redondo. Já não cabia no velho tênis da marca Conga. O pé virou uma bola.
Não demorou em aparecer uma senhora que tinha criado seus 13 filhos à base de remédios caseiros, desde soluções para acabar com piolhos e lêndeas, poções milagrosas contra queda de cabelo e leite de cadela passado na gengiva dos recém-nascidos para que tivessem dentes fortes.
– Meu Deus, a coisa está feia – exclamou ela ao examinar meu pé.
Mamãe arregalou os olhos. A boa senhora esfregou as mãos no avental cheio de nódoas de gordura e disse;
– Temos que tratar logo isso.
Com ajuda de mamãe, a boa senhora preparou um cataplasma com vários ingredientes de ervas e plantas medicinais. Em seguida, enrolaram aquilo tudo a um pano e saí com o pé parecendo um arbusto de tanta folha.
Seguiram-se alguns dias e nada do meu pé melhorar. A situação se agravava mais e mais. Além de inchado, meu pé estava ficando com uma cor vermelho-azulado.
Mamãe me levou, então, a uma curandeira muito famosa nas redondezas. Além de curandeira, era raizeira, especialista em remédios caseiros, simpatias, responsos e rezas fortes. Atribuía-se a ela curas de todos os calibres, desde quebranto, mau olhado, caída, vermes, ar brabo, praga, castigo, feitiço e gente ofendida pelo bicho mau.
Depois das rezas e de me benzer com três raminhos, a curandeira pediu para minha mãe enrolar uma fatia de polenta no meu pé infeccionado. Claro que a essa altura você deve ter levado a mão à boca para conter o macarrão do riso, mas é a mais pura verdade. Polenta seria a minha salvação contra o bicho-de-pé.
Infelizmente, talvez tenha sido a polenta a responsável por engordar ainda mais a bicheira. Quando a situação entrou para a fase extremamente crítica, a um fio do tétano, finalmente fui levado ao hospital, de onde saí vivo para contar essa história.
Claro que a fitoterapia é importante e tudo mais, mas desde a experiência traumática do bicho-de-pé, tornei-me um pouco cético com receitas a base de chás, polenta e essas coisas, porém, nada disse ao meu velho conhecido, especialista em remédios caseiros.