Recado a dois jovens namorados
Talvez vocês ainda não saibam, mas o amor seja a única coisa capaz de nos curar de todo tipo de dor.
Pois esta crônica em especial não tem nenhum endereço, mas tem destinatário. Aliás, destinatários: dois jovens namorados do meu convívio familiar.Então, este recado é para vocês que estão começando a namorar.
Vocês estão começando a descobrir em si mesmos os sentimentos do querer, do ciúme, da saudade, da insegurança e o mais bonito e valioso de todos os sentimentos, o do amor.
Talvez vocês ainda não saibam, mas o amor seja a única coisa capaz de nos curar de todo tipo de dor.
A pessoa que ama carrega um jardim nos olhos.
Agora, uma luz com contornos definidos ilumina o caminho de vocês, porque quando se ama de verdade só há um único caminho para os dois.
O amor nos deixa mais sensíveis para com o mundo que nos rodeia, tanto que sofremos ao saber que os detergentes causam dor e sofrimento aos germes.
Tomem esse recado a seus modos, pois lhes dou apenas algumas poucas palavras. É um recado um pouco açucarado, tanto que deveria ser proibido para diabéticos.
Desculpem se estou sendo inconveniente com minhas metáforas poéticas. Eu sei que vocês, jovens, torcem o nariz para a poesia. Se acharem este recado meloso e sem graça, guarde-o no fundo de uma gaveta qualquer. Talvez um dia o encontrem e então sintam exatamente o que estou tentando dizer a vocês por meio destas linhas.
Vocês devem descobrir que só há uma forma de não sentir os pés no chão, que é quando se está caminhando de mãos dadas com alguém por quem estamos apaixonados.
Vocês precisam entender que o amor é mesmo para valer quando um está no sonho do outro. Se você está no sonho dela e ela está no seu sonho, então a conexão formada é verdadeira.
Agora, deixe contar para vocês como era esse negócio de namorar na minha época. Via de regra, começava com a troca de olhares no pátio da escola ou no átrio da igreja. Se da troca de olhares saíssem faíscas, passávamos para a troca de recadinhos e bilhetes perfumados, pelas mãos de um amigo em comum. Mais tarde, diálogos de flores e mensagens de fumaça, à maneira dos índios.
O namoro, é claro, vinha com algumas brigas tolas. O olho desobediente piscava para a menina do outro lado da rua e tudo acabava por um breve espaço de tempo. Barba rala, irrigada com lágrimas, tristeza e tragédia.
Tudo isso, porém, era o aperitivo que antecedia o noivado.
Pois era assim, já não é mais.
Antes ficava-se namorando, agora namora-se ficando.
Antes era ‘meu bem’, agora é ‘meus bens’.
Antes era ‘Até que a morte os separe’, agora é ‘Até que a lua de mel os separe’.
Por isso que quem fala aqui é um cara meio pré-histórico em assuntos do coração. Vocês sabem o que é ‘morrer de amor’? Vocês sabem o que é sentir calafrios, mãos geladas, pernas trêmulas, coração acelerado? Vocês sabem o que é chegar à Roma ao contrário?
O recado é para que se gostem e se respeitem. Faltou o respeito em um relacionamento amoroso, faltou tudo. A falta de respeito mancha qualquer relacionamento. Imaginem uma camisa tão encardida que nenhum chinês do mundo conseguirá deixá-la novamente limpa.
Juntem aos verbos transitivos diretos ‘gostar’ e ‘respeitar’ o substantivo feminino ‘paciência’. Essa virtude é fundamental para que o relacionamento não exploda e jogue tudo pelos ares. Depois que as águas se turvam é preciso muita paciência e esperar que a limpidez retorne novamente.
E por falar em limpidez, sejam transparentes um com o outro. Sejam honestos e verdadeiros para não terem de engolir o celular, a fim de que o namorado não leia as mensagens de textos que podem destruir o relacionamento de vocês.
Apenas um recado: encontrem forças para suportar as diferenças e afinar as semelhanças. Isso é certidão de maturidade no namoro.
Só assim vocês passarão de dois jovens namorados a eternos namorados.