O tempo passa, o tempo voa...
– Janeiro já foi. – Fevereiro passou. – Março morreu. – Abril está indo... – Meu Deus, o ano está voando. O tempo praticamente comeu metade de 2013, quase a metade inteira.
– Janeiro já foi.– Fevereiro passou.
– Março morreu.
– Abril está indo...
– Meu Deus, o ano está voando.
O tempo praticamente comeu metade de 2013, quase a metade inteira.
De uma coisa temos certeza: corremos o tempo todo. Vivemos em altíssima rotação.
Vivemos o tempo da ansiedade e não o tempo do relógio.
Quem ainda consegue diminuir o ritmo e fazer escolhas com a devida calma?
Autran Dourado escreveu um conto magnífico que chamou de Os Mínimos Carapinas do Nada, em que moradores mais antigos de uma pequena cidade gastam o tempo se dedicando à arte de desbastar e trabalhar a madeira com um simples canivete até reduzi-lo a uma colher de pau ou a um nada qualquer. Para eles o ócio é um bom negócio. Claro, isso é ficção.
A vida não é um ensaio, embora tentemos muitas coisas. A vida não é um romance, embora vivamos nos enredando. A vida não é peça teatral, embora representemos muitas vezes. A vida não é um conto, embora vivamos um eterno faz-de-conta. A vida não é um poema, embora sonhemos mil sonhos. A vida é o tempo de abrir e fechar os olhos, mesmo para os que não acreditam na entidade metafísica do tempo.
Pois é, vivemos todos essa coisa de claquete que exige ação, ação, ação...
É bem conhecida a piada do workaholic que mesmo morto pediu para que a parentagem continuasse rezando, pois ele iria atender o celular que estava tocando.
Agora, com os softwares inteligentes não precisaremos mais nos preocupar com a logística de viver. Eles realizarão as aborrecidas tarefas rotineiras ou miudezas que nos causam estresse, inclusive dirigir o carro no trânsito caótico. Com eles não precisaremos mais chamar o táxi, comprar ingressos para o cinema ou para o show, levantar do sofá para abrir e fechar cortinas, ligar e desejar, a viva-voz, feliz aniversário aos nossos amigos. O nosso cérebro ficará livre para fazer milhões de outras coisas.
– E aí, como vai?
– Correndo como sempre, fazendo coisas como nunca.
É unha, cabelo, banho, creme, trabalho, seguro, super, shopping, trânsito, estacionamento, separar o lixo seco do orgânico, coçar o cachorro com o pé. Correndo sempre para pagar o IPTU, Imposto de Renda, IPVA, escola das crianças, taxas de água, luz e telefone, prestações, o conserto da campainha enguiçada e do dente cariado. Lixo seco, lixo orgânico, conferir o e-mail, Face, Instagram, Twitter. É o celular tocando o tempo todo. É calor, frio, chuva, tosse, antigripal...
Mal terminamos de pagar as dívidas que o Papai Noel deixou, acabou a alegria do Carnaval, o Coelhinho já deixou as prateleiras dos mercados e as Mães já estão de braços abertos pedindo presentes nos outdoors e anúncios de jornais e revistas. Logo virão as nozes, o panetone, algumas risadas com as brigas familiares implícitas na Ceia de Natal.
– Quando se vê, o ano já acabou.
– Quando se vê, o ano novo já começou.
– Quando se vê, a vida já passou.
Não sem tempo, um pouco de humor para levantar o astral. O tempo passa, o tempo voa e o slogan do Bamerindus continua sendo lembrado numa boa. O tempo passa, o tempo voa e a corrupção no Brasil continua numa boa. O tempo passa, o tempo voa e a panela velha continua fazendo comida boa. O tempo passa, o tempo voa e a Vovó Mafalda, do novo programa do Bozo, continua sendo um coroa barrigudo.
Agora, se me der licença, ainda tenho muito que fazer antes da meia-noite...