O namoro e o ciúme
Subvertendo o velho ditado, “De poeta, médico, louco e ciumento todo mundo tem um pouco”.
Subvertendo o velho ditado, “De poeta, médico, louco e ciumento todo mundo tem um pouco”.Não há casal de namorados no mundo que não vivencie o ciúme de alguma forma.
Em doses moderadas, o ciúme tempera o amor. Em exagero, o ciúme envenena o amor.
A verdade é que o ciúme tem mais amor próprio do que amor verdadeiro.
O problema é quando o ciúme adquire os sintomas de uma doença grave contra a qual não há remédio, apenas alimento. De repente, o ciúme torna-se igual a uma espiral de sacarrolhas que faz voltas e se prolonga até a alma, envolvendo-a como o tentáculo de um polvo perigosamente enfurecido.
É evidente que o ciúme doentio cumpre diferentes estágios progressivos, mas todos eles possessivos.
No primeiro estágio, com o namoro se encontra na fase inicial, o ciúme ainda não emprega unhas.
– Onde você esteve, amoreco?
– Por que demorou tanto, totozo?
– Pare de olhar para o lado, amorzin.
Um acredita que é dono de uma pequena parte do outro.
– Não quero dividir você com ninguém, meu tudo.
Nessa fase inicial, os namorados conseguem conter o ciúme para evitar escândalos em público, muito embora ao chegar a casa batam a porta com toda força da raiva, fechem a cara um para o outro com trinco e cadeado e, mais tarde, gastem boa parte da poupança lacrimal no travesseiro.
No segundo estágio, o ciúme experimenta uma dose mais forte e o relacionamento começa a avinagrar. Um acha que é dono da metade do outro.
– Metade de você pertence a mim, entendeu?
Os namorados procuram, com uma lupa, quaisquer vestígios de traição. Pode ser um fio de cabelo clandestino, mancha de cosmético, cinto do carro regulado um ou dois pontos a menos que o costumeiro, número de telefone rabiscado em um bilhete com letra tremida ou mesmo uma mensagem cifrada no celular.
No terceiro estágio, o ciúme evolui para a troca de ‘coices’ que a ciência mede em cavalos de força. Os acessos de ciúme tornam-se mais contundentes e mais doloridos. A dor pune as unhas que o ciúme enterra.
– Pare de olhar para aquela piriguete senão quiser que corte seu objeto fora...
– Lembra da Lorena Bobbitt, que cortou fora o negócio do marido, lembra? Só que não vou jogar no lixo para que você possa colar de novo... Vou jogar no vaso da privada e dar descarga umas duzentas vezes, entendeu?
– E não me venha chorar as pitangas depois!
Um acha que é dono do outro.
– Você não é de você. Você é meu e com o que é meu faço o que eu quero e ponto.
No quarto estágio, o ciúme passa para o estágio ‘zagueirão’, a marcação é implacável, dura e truculenta e quase sempre termina em lances violentos. O jogo do amor acaba truncado.
– Onde você esteve até essa hora, safado?
– Tinha mulher na jogada, canalha?
– Nem me venha com essa desculpa conhecida como o drible-da-vaca!
Não raro, um dos parceiros acaba levando cartão vermelho. Antes, porém, se atracam, se mordem, se engalfinham e se machucam para valer.
Nesse estágio do ciúme aplicado às coisas do amor ninguém mais é dono de ninguém, porém, não é livre, uma vez que passa a ser escravo do ódio e da mágoa. Normalmente não há uma segunda chance para o amor crescer e se fortalecer.