O apoio de um grande empresário
Naquele abril de 1985 tive a oportunidade de estrear em livro individual com o livro de poemas “Volta e Meia um Poema na Veia”.
Naquele abril de 1985 tive a oportunidade de estrear em livro individual com o livro de poemas “Volta e Meia um Poema na Veia”. Tinha eu 24 anos, uma moto caindo aos pedaços e uma namorada que me enchia de comida para tentar consertar minha magreza de dar dó. Durante o dia trabalhava em uma das maiores fábrica de móveis da América Latina, a Florense, cursava faculdade à noite em Caxias do Sul, morava em uma pensão de terceira categoria e estava encaminhando o contrato social para abrir a minha própria agência de publicidade. Tudo esvaziava de sentido, comparado ao sonho, de colo ainda, de tornar-me escritor. O doce sonho de onde pregar um prego ele fica ali para sempre. Ninguém mais tira, ninguém...Essa introdução é para dizer a você que realizei o sonho porque houve quem acreditasse nele. Não sei porque caminhos, alguém fez chegar aos ouvidos do empresário e patrão Lourenço Darcy Castellan que eu estava fazendo a catarse de meus sentimentos em forma de versos. Eu havia, até então, participado em duas antologias poéticas: “Quando as folhas caem” e “Letras do Brasil”.
Aconteceu o que eu não esperava. O Sr. Lourenço (era dessa forma respeitosa que todos nós o tratávamos na fábrica) mandou-me chamar.
Já contei a você que a minha boca era uma taipa de silêncios e meus olhos dois pátios sem crianças brincando. Morria de vergonha da minha timidez raspada atrás da orelha. Não que hoje tenha melhorado muito. Ainda prefiro tomar injeção na bunda a falar em público.
Deixe-me retomar a história.
Fiz como um jovem vindo do interior faz: juntei os meus versos datilografados em folha de papel pautado e saí com eles debaixo do braço para falar com o dono da fábrica para a qual prestava meus serviços como auxiliar de contabilidade.
Adentrei a sala da secretária que me conduziu a sala do Diretor-Presidente.
A imponência da sala ampliou minha sensação de pequenez que se tornaria patente nos adjetivos que figurariam nos títulos dos meus livros “Minuto Diminuto”, “Crônicas da Cidade Pequena” e “Vidas Minúsculas de Vila Faconda”.
Ser tímido é muito penoso.
O fato foi que o Sr. Lourenço logo percebeu o meu acanhamento, tanto que tratou de perguntar-me sobre o meu gosto peculiar pela escrita. Visivelmente atrapalhado, alcancei-lhe o monte de papel umedecido de suor que trazia debaixo do braço. Desmanchei um novelo inteiro de expectativas até ele quebrar o silêncio pesado como o chumbo.
– Você leva jeito para a escrita.... Preciso conversar com o Paulo e o Gelson...
Limitei-me a agradecer:
– Obrigado.
Eu nunca havia visto uma sala assim tão imponente, nem havia estado cara a cara com o dono da fábrica que orgulhava todo mundo. Isso, mais a sua sincera apreciação dos meus espirros poéticos, deixou-me sem condições emocionais de falar qualquer coisa pertinente.
Levantei-me da poltrona estofada com couro natural e saí com um ar de tonto feliz.
Encurtarei a história. “Volta e Meia um Poema na Veia” saiu, graças ao Sr. Lourenço que bancou meu sonho ao patrocinar a publicação do livro, além de um grande empresário é um descobridor de talentos.
Com o apoio de pessoas como o Sr. Lourenço continuei a escrever pela vida afora.