Nova dupla sertaneja
Estou precisando contar uma novidade a você.
Estou precisando contar uma novidade a você. É sobre uma nova dupla sertaneja sensação que está surgindo. Para variar, são irmãos. Você sabe, as duplas formadas por irmãos dominam o cenário da música sertaneja brasileira. Deveria escrever sobre temas mais interessantes como o horóscopo das árvores, atribuído aos sacerdotes celtas que viveram na Gália e Irlanda, na Idade Média. Os sacerdotes druidas liam nas árvores o destino das pessoas. As árvores lhes davam sombra, frutos, lenha, alojamento para as aves que depois caçavam e serviam, também como oráculo. Mas o assunto de hoje é sobre a nova dupla de música sertaneja que tive o privilégio de conhecer há alguns dias. O mais velho tem oito anos de idade e o mais novo, cinco. O primeiro tem cabelos loiros e olhos azuis luminosos e o segundo tem cabelos castanho-escuro e olhos pretos de uma vivacidade impressionante. O da idade maior ri ah, ah, ah. O da idade menor ri ih, ih, ih e tem orelhas sorridentes. Com tanto lixo musical, você precisava tê-los ouvido cantar, à capela, o clássico da música gaúcha, Querência Amada do Teixirinha. Afinados, timbres agradáveis, vozes que se completam como arroz e feijão. Terminada a audição, sugeri para a dupla arranjar logo um nome. – Já temos – respondeu o de 8 anos. E antes que o irmão menor entregasse o ouro, o maior completou: – Cavoca e Tira-Terra. Eis, portanto, que está surgindo uma nova dupla no mundo artístico: Cavoca e Tira-Terra. Cavoca é o de oito anos e Tira-Terra, o de cinco. E a dupla já está adotando o visual de artistas no corte de cabelo estilo moicano; spike (espinhos). De dez em dez minutos, Cavoca e Tira-Terra corriam para colocar a cabeça debaixo da torneira para manter o penteado. Cavoca e Tira-Terra não fazem idéia que o estilo moicano foi criado por tribos indígenas americanas e que o filho da Angelina Jolie também adotou o visual. Cavoca pediu à cabeleireira: – Quero que faça um corte gresta del gal (Crista do galo). Cavoca e Tira-Terra, além de talentosos interpretes do cancioneiro popular, são duas pequenas máquinas de fazer rir: – Na escola, seguro o peido na cadeira, mas quando chego em casa libero geral. – Por enquanto estou na escolinha, mas depois vou pra a ‘escolona’. – Uma brespa (abelha) picou minha orelha com a boquinha (sic) e ela ficou igual ao figá (fígado) de galinha. O mais novo tem lá suas próprias artimanhas para fugir do castigo do pai. – Eu mento (sic) – diz ele e, com toda ingenuidade do mundo, completa: – Meu pai não poderia ouvir isso. E com a pureza que só uma criança criada longe do asfalto consegue ter: – Beijei a menina na rampinha da escola. – No rosto? – Na boca. O que importa é que cantam bem os danados. E não é uma técnica herdada. Até onde sei, os pais não tocam nada, nem cachorro para fora de casa. Como a história vem de Nova Pádua, você pode achar que é piada. Garanto que não é. Óbvio que uma coluna como esta tem uma cota de coisas sérias. A desta semana não é séria, mas é pura e verdadeira como a vida de algumas poucas crianças do interior, ainda não contaminadas por fotlogs, blogs, blogosfera, messenger, scraps, tags you tube, orkut, gifs e outras tralhas cibernéticas. Agora só me resta torcer para que o computador e o asfalto não cheguem logo à casa da nova dupla. De mais a mais, como é que ficaria a vida do “Cavoca e Tira-Terra” no asfalto?