Não leia
Não leia livros.
Não leia livros. Não leia livro algum. Não leia nem livro de auto-ajuda, muito-ajuda ou pouco-ajuda. Não leia literatura barata. Literatura de fogos de artifício e perfumada como um bibelô. Não leia nada que traga títulos como "Pedaços de mim", "Sofrimentos de mim" ou "Sonhos de mim". Não leia best-sellers: A Cabana, O Caçador de Pipas, "Sombras do Vento. Não leia os grandes nomes da literatura mundial: Goethe, Kafka, Shakespeare, Camus, Borges, Machado, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo. Não pense em ler os grandes romances da literatura russa: Guerra e Paz, Anna Karenina, Ivan - O Imbecil. Pushkin, Dostoievski, Tolstoi, Tchekhov, podem viciar. Pelo amor de Deus, passe longe da poesia, essa máquina de comover, que diz coisas absurdas: "A saudade é a presença da ausência", "Meu coração lá de longe / faz sinal que quer voltar / Já no peito trago em bronze / Não tem vaga nem lugar"; "Derramado no papel / o poema é a mancha / que o vinho fez / o resto é embriaguez"; "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho"; Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei / Vou-me embora pra Pasárgada; Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho / Eles passarão / Eu passarinho! Esqueça os poetas. Eles são doidos que pintam as pás dos cataventos em movimento. Torça o nariz para Drummond, Quintana, Bandeira, Pessoa, Pound, Lorca, Witmann, Camões, Leminski, Ferrarini...