Meninas são de Vênus...
Não tive como evitar de ouvir o papo descolado dos dois garotos na sorveteria. É um assunto bem comezinho, mas interessante sob o ponto de vista de atualização em novas gerações.
Não tive como evitar de ouvir o papo descolado dos dois garotos na sorveteria. É um assunto bem comezinho, mas interessante sob o ponto de vista de atualização em novas gerações. – Meninos e meninas são muito diferentes – disse o menino gordinho. – A diferença vai muito além da última vogal – disse o menino de óculos. – A Dakini seria capaz de ficar careca e com cara de louca só pra me odiar – rebateu o de óculos. – Só estou pensando que as meninas são como a eletricidade, ninguém sabe dizer como funciona – voltou à carga o gordinho. – E se encostar onde não deve dão choque – completou o de óculos. O papo continuava numa espécie de jogo de pingue-pongue. Um batia de um lado e o outro rebatia, às vezes com violência. – Esse negócio de tentar entender as meninas é como as ondas do mar, vem uma e derruba você. Você se põe de pé, confiante e de repente vem uma onda maior e torna a derrubar você. Se não se cuidar acaba tomando um bom caldo – falou o de óculos. – Pois é, a Flavinha é uma dessas meninas complicadas. Quando acho que estou entendendo as atitudes dela, ela torna a me surpreender. O gordinho disparou. – Quer saber o que acho da Bombinha? – O quê? – Um avião que quando decola empina o nariz e olha a gente lá de cima... O de óculos não esperou o amigo concluir a frase e tratou de dar o troco: – E o que me diz da Dakini que dá tapões nas costas como se fosse um menino. Logo acharam mais prudente retornar ao campo da generalização. – As meninas acham que a gente nunca cresce – disse o de Óculos e continuou: Vivem reclamando que só sabemos puxar os cabelos delas. Jogamos a bola na cara delas. Falamos palavrões. Vivemos sujos feito uns porquinhos... – E acham que não sabemos distinguir as cores primárias das secundárias – completou o Gordinho. – Por falar nisso, você sabe? – Perguntou o de óculos. – Não sei e nem quero saber. O que sei é que as meninas são umas tagarelas. Deixam a gente rouco e desibratado só de ouvi-las. O gordinho tomou fôlego e continuou: – As meinas têm a mania de achar que somos todos míopes? – Ora, míopes por quê? – Estava eu procurando um copo de água no salão de festas e não enxergava. A menina que estava comigo logo viu uma jarra com água. Eu estava tão concentrado com o copo que não fui capaz de ver a jarra. Acredita? O de óculos emitiu um chiado com a boca que imitou o furo de um pneu e disse: – Meninas são Vênus, meninos são de Marte. Não valem um segundo do nosso tempo. – Não valem mesmo – concordou Richard, embora nenhum dos dois tenham dito isso com o coração. Pouco depois e sem conseguir colocar o assunto das meninas de lado, o gordinho propôs: – Acho que poderíamos fazer um milhão de coisas mais interessantes do que ficar aqui falando das meninas. – Como o quê, por exemplo? – Sei lá, reciclar papel ou plantar uma árvore...