Mala sem alça
Um dos maiores males sociais do mundo moderno foi diagnosticado com o nome de Mala, que está no próprio substantivo masculino “mal”
Está tudo tão chato no Brasil que decidi escrever sobre o Mala que é a chatice em pessoa. Pois um dos maiores males sociais do mundo moderno foi diagnosticado com o nome de Mala, que está no próprio substantivo masculino “mal”. O terrivelmente devastador Lago Natron no norte da Tanzânia petrifica as aves que acidentalmente caem em suas águas. A pessoa Mala tem efeito semelhante particularmente em pessoas.O Mala pode ser encontrado em toda parte, inclusive à luz do dia. Se prestar bastante atenção, perceberá que algumas pessoas, talvez inconscientemente, rezam a oração que Cristo ensinou, dando ênfase ao final que diz ...“Livrai-nos do ´malamém`”.
O Mala é prejudicial à saúde, pois reúne altos teores de ingredientes nocivos que podem causar dependência. Em sendo fraca, a pessoa estará irremediavelmente condenada a carregar um Mala sem alça pelo resto da vida.
Na companhia de um Mala a sensação é de permanente mal-estar. Se o cérebro do Mala fosse chocolate, não encheria sequer um M&M.
Há aquele tipo de Mala que tem 30 anos, mas que dá a impressão de que anda na casa dos 200, tal a carga de experiências que diz ter vivenciado. Se falar de costelas quebradas, por exemplo, o Mala já quebrou todas pelo menos duas vezes.
– Teve uma vez que o meu cavalo árabe caiu sobre mim, após assustar-se com um lobisomem.
Não adianta dizer que não acredita. O Mala prossegue:
– Também teve aquele vez que me quebrei todo numa copa de árvore num pouso forçado de asa delta.
Se puxar assunto sobre cidades, o Mala rodou o Brasil inteiro e o mundo todo.
– Você conhece Quixandá?
– Claro que conheço Quixandá. Estive lá na semanada retrasada recebendo o título de cidadão Quixandense.
O Mala vive de favores alheios. Pede, como se todo mundo fosse amigo de longa data.
– Só estou pedindo porque somos bem dizer irmãos.
No jogo de futebol, o Mala é o fominha do time. Exige que lhe toquem a bola, apesar de ter tanta intimidade com a gorducha quanto um esquimó tem prancha de surf. De pouco adianta que lhe digam que não joga quanto afirma e não é tão bom quanto pensa.
– Não faço sombra a um Pelé porque quebrei a perna naquele horrível acidente de lancha quando ainda era moleque.
Em alguns casos, o Mala vem de pai para filho. Existem Malas que vêm para pior, como se sabe. Ganham com méritos dos antecessores em todos os quesitos em que forem avaliados: impertinência, inconveniência, indisplicência, indecência, incompetência e outras incongruências.
O Mala é o sal da terra, por onde passa não cresce grama. No final dos tempos, sobre o planeta desolado, restarão milhões de baratas zonzas, indo de um lado para outro e, óbvio, milhares de Malas. De mais a mais, os Malas e as baratas guardam enormes semelhanças: não evoluem e são muito difíceis de serem eliminados.
Para fechar a mala ou esta crónica que dá no mesmo, o Mala não se incomoda em ser chamado de mala. Parece divertir-se com isso.
– Antes um mala como eu do que um ‘malacabado’ como você.