Chamada perdida
Os celulares estão ficando cada vez mais finos e inteligentes, ao contrário de algumas pessoas que estão ficando cada vez menos educadas e mais dependentes deles.
Os celulares estão ficando cada vez mais finos e inteligentes, ao contrário de algumas pessoas que estão ficando cada vez menos educadas e mais dependentes deles.O que se observa é que a dependência do celular foi além do infinity, do ‘sem limites’ e do ‘sem fronteiras’.
Todo mundo tem e ninguém mais consegue viver sem. São perto de 6 bilhões de celulares no mundo. O celular já chegou a lugares aonde ainda não chegou sequer a água potável e o saneamento básico.
Os celulares modificaram tão profundamente a humanidade que depois deles o mundo não é mais o mesmo.
Os celulares evoluíram tanto que hoje são máquinas fotográficas, filmadoras, despertadores, calculadoras, rádios, arquivos de músicas, GPS, dão acesso a redes sociais, mandam e recebem emails, isso sem falar nos milhares de jogos e aplicativos que transformam você em desenhos horríveis, ou seja, os celulares são verdadeiros portais pessoais.
As pessoas não escrevem mais com lápis no papel, mas com o próprio dedo na tela do celular.
Quase ninguém mais precisa de beijos, abraços, mãos dadas e essas coisas do relacionamento amoroso. As pessoas preferem namorar um aparelho de celular.
As pessoas tornaram-se apêndices de seus celulares. O número de vítimas da dependência digital não para de crescer. Em qualquer situação os viciados em celular param, olham a tela do celular, dedilham uma mensagem, ouvem música ou simplesmente jogam. Isso enquanto conversam, namoram, participam de uma reunião e o que é pior, até enquanto dirigem. Preferem sair de casa sem as calças do que sem o celular.
Pois é, o mundo está muito sensível ao toque e isso assusta um pouco. Por falar em toque, muitos julgam seus semelhantes pelo toque do celular e a quantidade de chips.
Dia desses, encontrei a filha adolescente de uma amiga minha, viciada em celular, como a maioria dos adolescentes.
– Oi.
– Oi.
– Pare de mexer nisso, por favor?
– Olha só como você é especial, parei de mexer para lhe dar atenção...
– Já pensou em carregar um livro no lugar do celular?
– Aãhn!
– Você pode mexer nele obsessivamente várias vezes ao dia?
– Como assim?
– O livro tem mais cobertura do que essas operadoras todas. Aliás, até o bolo de cenoura de sua avó tem mais cobertura.
– Me poupe.
– Que tal se você não largasse o livro por nada? Se você dormisse ao lado dele, acordasse com ele, o levasse para o banheiro e para a escola – e, se, por enorme azar, o esquecesse em casa ao sair, voltasse correndo buscá-lo?
– Pirou ou o quê?
– E se você amasse o próximo como ama seu celular? E se você fizesse cafuné no seu pai no lugar do seu celular?
– Grrrr…
– E tem mais: o livro não se desmancha quando cai no chão, não fica sem crédito, pega em qualquer lugar e a carga da bateria é para a vida toda.
Pronto, ódio instalado.
– Desliga!
Tive que me desconectar por total incompatibilidade: ela tem um touchscreen e eu um de botão.