Aprendi
Daqui a dois dias completo 52 anos de vida. Não estou vivendo nenhuma grande crise de identidade. Não estou passando por nenhum grande problema ligado ao DAEM – Distúrbio Androgênico do Envelhecimento.
Daqui a dois dias completo 52 anos de vida. Não estou vivendo nenhuma grande crise de identidade. Não estou passando por nenhum grande problema ligado ao DAEM – Distúrbio Androgênico do Envelhecimento.Estou apenas diante da marcha irrefreável dos cabelos brancos, contra a qual nenhum exército do mundo poderá detê-los. Pouco importa, contudo, os cabelos brancos. O que vale é o que se aprende com o branco dos cabelos.
Em 52 anos de vida aprendi que o tempo passa mais rápido do que a própria vida.
Aprendi que na primeira fase da vida conheci as pessoas e o mundo. Na segunda, experimentei parte do que conheci e, agora, na terceira, posso escolher o que viver e assim curtir com prazer as minhas escolhas.
Aprendi que Deus não me deu as ferramentas necessárias para transcender, por isso preciso de arte e poesia.
Aprendi que a musiquinha depois do Fantástico prenuncia desumanamente a segunda-feira.
Aprendi que quase tudo na vida cobra pedágio.
Aprendi que os amigos são como os melões: de cada 100 apenas dois ou três são bons, e o restante ou está carunchado ou está podre.
Aprendi que, na maioria das vezes, quando precisamos de uma mão amiga podemos encontrá-la no fim do nosso próprio braço.
Aprendi que a linha divisória entre o bem e o mal atravessa todos os corações, mas ninguém é capaz de arrancar um pedaço do próprio coração para separá-los.
Aprendi que quem realmente ouve os dois lados de uma discussão de um casal é a vizinha.
Aprendi que esquecer deve ser uma forma de fechar portas. Esquecer consta de enfraquecer o olho para aquilo que se agita no passado. Esquecer requer o trabalho de não desenvolver culpas ao olhar para trás.
Aprendi que é preciso dar tempo ao tempo. Os pinguins aguardam, pacientemente, um mês inteiro na praia, chegando a perder metade do peso, para trocar a plumagem, e só então voltar ao mar.
Aprendi que na Palestina há o muro das lamentações, na África do Sul há o muro da segregação racial, nos Estados Unidos há o muro de dólares e, no, Brasil só há pichações no muro.
Aprendi que ter uma companhia não significa necessariamente ter um alento para a solidão ou segurança contra as peças que a vida costuma nos pregar desavisadamente.
Aprendi que rir é o melhor remédio. Aprendi que quem ri o tempo todo é um tolo.
Aprendi que uma das coisas da vida que não tem conserto é a estupidez humana.
Aprendi, sobretudo, que colecionar livros é um passatempo e que ler livros é colecionar passatempos.
Aprendi que para tornar-se homem é preciso medir a própria coragem.
Aprendi que a mentira tem pernas curtas para escapulir mais facilmente por entre as pernas longas da verdade.
Aprendi que todas as coisas têm serventia. Pregos atirados fora consertam a vida do borracheiro. Arbustos às margens da estrada se encaixam para penico. Nariz grande e tortão endireita a vida do cirurgião. Cabeça desarrumada arruma a vida do analista.
Aprendi que os ‘malas’ são o sal da terra. Por onde eles passam não cresce grama nem coisa alguma. Aprendi que os ‘malas’ não largam do seu pé até deixar você descalço ou a pé, dependendo da situação.
Aprendi que se pode adiar uma viagem, um compromisso, uma tarefa, mas nunca um olhar, um sorriso, um abraço ou uma palavra amiga.