A visita
Todo mundo recebe visitas
Todo mundo recebe visitas. Visitas de toda ordem e nos momentos mais inesperados.Visita da sorte. Visita do amigo de longa data. Visita do parente distante. Visita do vendedor ambulante. Visita da esperança.
E para quem ainda acredita na magia do Natal, recebe até a visita do Papai Noel.
Algumas visitas nem sempre são bem-vindas, como a visita da dor-de-cabeça, da dor-de-barriga ou da dor-de-cotovelo.
Não são poucos os que recebem a visita da insônia que passa a noite ao pé da cama, virando páginas mortas de sono.
Indesejada, também, é a visita do cobrador. A visita da angústia. A visita da saudade. A visita do remorso.
Para a fofoqueira à janela, toda pessoa que passa pela calçada é uma visita para ela.
Para a rã, toda mosca que a visita é uma refeição para ela.
Para a mãe, toda visita da cegonha é uma benção para ela.
E, é claro, não se pode esquecer a visita do chato.
Como mais ou menos disse Benjamin Franklin, peixes e visitas chatas cheiram mal depois de um tempo.
Os chatos chegam nas horas mais inoportunas e sem dar aviso. Os chatos de carteirinha nunca chegam sozinhos.
Deixe-me contar a você uma história não tão recente, mas verídica.
Passava das oito horas da noite de domingo quando tocou a campainha da porta de casa. Espiei pelo olho trágico. Não, não era a visita do bom Papai Noel, mas de um ex-colega de trabalho chamado Dirceu (Obviamente, o nome é fictício). Dirceu era gordinho e barbudo, conhecido por todos como Malamém.
Malamém não tinha vindo sozinho. Liderava uma comitiva, formada por ele, mais a mulher, a afilhada de uns seis anos, o casal de filhos, um ainda de colo, e o cachorro que atendia pelo nome de Maguila.
Pela hora, logo deduzi que estava querendo jantar e não exatamente nos visitar.
Apesar disso, abri a porta...
– Boa noite, quanto tempo?
– Pois é, como o tempo passa depressa, meu Deus!
– Entre... Entre “Papai Noel”...
– Estávamos passando perto daqui e decidimos fazer uma visita, mas juro que não demoramos.
– O que é isso, Deus-me-livre!
De repente, após a comitiva ter jantado, inclusive o cachorro que, saciado, inventou de destruir meus chinelos...
– Largue o chinelo Maguila, vamos embora.
– Não te apresses, Deus-me-acuda.
– É tarde, vamos indo.
– A pressa é tua, Deus-te-ouça.
Perto da meia-noite e depois de as crianças terem virado a casa de pernas pro ar, Malamém tornou a ameaçar...
– Agora sim, vamos indo!
– Já vais, graças a Deus.
Mais meia hora se arrastou e finalmente...
– Até logo, Deus-lhe-pague.
– Vá com Deus.
– Passe bem...
Só esqueci de acrescentar... longe!