A casca de banana
O rico esconde-se atrás do pau de fumaça de seu charuto da arrogância.
O rico esconde-se atrás do pau de fumaça de seu charuto da arrogância. O obeso esconde-se atrás da máscara da simpatia. O fingido esconde-se atrás do muro da gentileza. O fraco esconde-se no meio da gelatina da covardia.Mas não é nada disso que eu queria dizer nessa terça-feira, fria e chuvosa. Fico até com medo de contar a história a você porque vai achar que estou mentindo. Sei, porém, que não estou. É a história da casca de banana.
Estava eu nem casa com minha família em pleno domingo à tarde, tão frio e chuvoso quanto essa terça de final de maio.
Decididos a não nos aborrecer, ocupamo-nos cada um a sua maneira. Atirei-me no sofá em frente à televisão, usando o controle remoto para me defender dos apresentadores que insistiam em fazer-me de idiota.
A mamãe general tratava de esticar o caminhão de roupas molhadas em um varal improvisado que percorria os cômodos da casa toda à maneira de uma rede.
Alheio a isso, meu filho investia todas as suas energias em desmontar os brinquedos e deixá-los espalhados no meio do chão. Faltou o cachorro entrar na história pela porta dos fundos, com as patas sujas de barro, vindo de uma perseguição a um gato que se aventurara a invadir a horta. Num pequeno descuido, coisa de nada, o inocente cachorro atravessou o sofá de canto a canto para farejar uma bolinha de tênis esgarçada.
Entediado com a televisão, fui preparar pipocas, que mais tarde viraram munição na guerra que travei contra meu filho. Encurtando a história, foi em meio a essa maravilhosa desordem doméstica que um casal de amigos nos encontrou naquela tarde chuvosa. Aconteceu de estarem no caminho que passava em frente a nossa casa, lembraram-se de seus proprietários e...
– Paramos para uma visita de médico – garantiu-nos ele.
– Pois é, vamos ter que ir andando logo, pois minha mãe nos aguarda – jurou ela.
Claro que não sabíamos onde nos esconder. A vergonha nos urtigava a pele que ficou tão vermelha quanto um tomate caindo de maduro. Afinal de contas, nossa casa não oferecia as melhores boas-vindas, sobretudo a pessoas devotadas à limpeza e à organização, como era o caso de nossos amigos.
– Que chuva... Que bom que vocês vieram... Entrem...entrem... Passem aqui para a sala – disse eu, buscando ganhar tempo.
Enquanto isso, minha mulher escondia os destroços da guerra doméstica. Jogou uma manta sobre o sopá. Arrancou as roupas molhadas do cordão. Empurrou os cacos dos brinquedos para debaixo dos tapetes e escondeu os restos de pipoca na estante, junto com o cachorrro.
Mal nos acomodamos, uma casca de banana começou a rir para mim. Então o mestre dos disfarces entrou em ação. Estiquei a perna e, com a ponta do pé, fui empurrando-a para debaixo da mesa de centro, mas a danada acabou grudando na pantufa. Sacudi a perna com força e nada. Quando fui levantar-me para arrancá-la da pantufa com a mão, escorreguei e esborrachei-me no chão.
Hoje, sempre que vejo alguém tentando esconder-se atrás das aparências, lembro da casca de banana. Por mais que tentemos esconder algo, uma hora ou outra aparecerá uma casca de banana para nos desmascarar.